🔸1- Introdução:
Aproveitando o tempo nesta manhã chuvosa, com o intervalo entre um compromisso e outro, fiz uma visita a Capela de Nsa. Sra. da Lapa e Boa Morte, para prestigiar a inédita exposição temática caiçara e ao mesmo tempo, contemplando o mais novo Patrimônio Mundial da Humanidade, a Ilha Grande.
Encontrando com Alonso (funcionário da Secretaria de Cultura), ele foi me guiando pelo universo da fé cristã católica dos ilhéus angrenses, percorrendo um roteiro mágico desde o século XVIII até meados da década 1980.
Padroeira original da Igreja de Sant'Anna, na Praia da Freguesia.
Sacrário de talha montada e que ficava na Sacristia. Com colunas coríntias, cantos estilizados e um Cordeiro encimado.
Passeamos pela imigração japonesa e sua conversão ao culto petrino romano, com fotos de japoneses da Praia de Bananal, Matariz, Abraão, etc...depois fomos analisando a imaginária religiosa , a ourivesaria, as várias bucólicas capelinhas de cada comunidade das praias.
🔸2- Descrição:
Na exposição há algumas figuras sacras porém, de outras igrejas do continente, como representante simbólico do padroeiro/orago de cada templo...pois alguns templos estão com suas peças históricas originais ainda nos altares.
O ardor de fé , as relações de poder, as interações sociais (ou não), a riqueza artística importada de mestres ou santeiros locais e o apogeu da cana e do café, estão ali, em broches de ouro das ricas indumentárias de Santos bíblicos e da história da Igreja dos altares, seja em brincos de madrepérolas, águamarinhas ou semi preciosas, alfaias de prata, cruzes processuais belamente forjadas em detalhes, navetas e ambulas, castiçais e fotos antigas.
Preciosidades que trazem personalidade cultural e nos indagam continuamente: Quem fez estas jóias?Qual origem geográfica?Que técnicas?
Gemas preciosas, broches de prata, coroas e resplendores de raios e estrelas...
🔸3- Um tesouro: a chave
Um item digno de nota, é a Fita de Sacrário, objeto que expõe na sua própria formatação têxtil e metálica, com bordadura em ouro, chaves de metal e incrustações de gemas preciosas, fala também, por sua importância icônica, de uma época de potência econômica e luxo eclesiástico , pois o detentor dessa "insígnia", ou era o Pároco ou pessoa de grande confiança, dentro da estratificação sociológica dos membros do status quo e da dinâmica antropológica no âmbito da história dos comportamentos.
🔸4- Documentos atestam antiguidade e modernidade:
Destaque para a documentação antiga, seja de certidões de nascimento ou batismo, inclusive do tataravô do Alonso, até folhetos e jornais antigos anunciando as festas e quermesses, num tempo que a imprensa era luxo e de circulação bastante dificultosa, longe de nossa época de terabytes, megapixels e satélites globais. Assim, mesmo com essas máquinas da época só na capital fluminense, as associações religiosas de leigos, faziam sua publicidade.
🔸5- Entrada na Reserva Técnica:
Por fim, visitei a mini Reserva Técnica, que fica na antiga Sacristia, num espaço exíguo, mas bem organizado, com um armário móvel por trilhos, moderno, mas sem controle da temperatura e nem uma catalogação museológica e nem análise antropoarqueológica, por falta de um profissional museológo, mas estão com fichas básicas com informações como medidas (altura, base), número de série, data da chegada, quem doou, etc.
Imagem ilustrativa
🔸6- Diálogos: estórias e histórias.
A minha viagem continuou com nossa conversa sobre o estilo rococó do altar, seus signos de inspiração maçônica , o orbe solar e lunar , as representações da cultura católica e a história do restauro e descoberta das cores originais da talha do retábulo.
Uma mistura quase orgíaca de parreiras, folhas de acanto, penachos e carrancas pintadas de aparência negroide.
🔸7- Identificação das capelas:
A- Capela São Benedito, Praia de Palmas, séc. XIX.
B- Igreja de Sant'Anna, Praia da Freguesia, 1796 e reforma 1843.
C- Capela Sant'Anna, Praia de Matariz, século XX.
D- Capela Sagrado Coração de Jesus, Praia de Parnaioca, século XX.
E- Capela São Pedro, Praia da Longa, séc. XIX para XX.
F- Capela de Sant'Anna, Praia de Lopes Mendes, séc. XIX para XX.
G- Capela de Nos. Sra. da Lapa, Praia de Araçatiba, séc. XX.
Uma visita a outra dimensão: a fé camponesa dos caiçaras!
Carlos Eduardo da Silva
Prof. Lic. His.
LS Antropologia Forense.
Presidente do IPHAR