1- Objetivos:
Inicialmente o subprojeto aqui apresentado era apenas cadastrar e fazer o levantamento historiográfico de um trecho escolhido do pavimento, tanto como amostragem da tecnologia do construtor, quanto da contextualização frente aos outros Caminhos e Estradas Históricos que já estão dentro do Projeto Estradas Antigas, Caminhos do Coração. Assim procedemos. Chegamos no quadrante -22.752987 -44.322091(aprox.), e coletamos dados de volumetria, tomada de fotos, cálculo médio das peças do pavimento e estudos de caracterização arquitetônica.
1.2-Oralidade, esquecimento e lendas.
Após quase 200 anos aproximadamente, esta estrada imperial, está ainda imersa em lendas e conhecimentos esparsos. O ritmo acelerado de terabytes, megapixels, criptomoedas, das telas brilhantes e ao mesmo tempo do ressurgimento aleatório de ideologias grotescas e instintos mais primitivos na nossa sociedade contemporânea, fazem esses sítios arqueológicos ficarem abandonados; quisera eu que ficassem estáticos, como numa cápsula do tempo.Mas não estão: riscos iminentes de retirada de pedras, desbarrancamentos naturais por excesso de chuva, gado fazendo sulcos profundos, favelizacões são ameaças a esses patrimônios materiais edificados.
Os próprios bananalenses (e tantos outros brasileiros) onde há ocorrência desses caminhos tem ouvido falar por décadas da existência da calçada de pedra, ou estrada da calçada, como os locais denominam esta imensa odisséia construtiva e humana, que foi a ereção dessa via.
Um parente antigo, um mateiro, um tio... eram as únicas testemunhas da existência daquele monumento.
E nós, em parceria e amizade com os próprios moradores e proprietários conscientes e suas autorizações, descortinamos e publicizamos de forma inédita, com rigor científico mínimo, mais uma etapa do nosso Projeto Estradas Antigas, Caminhos do Coração.
Uma pesquisa in loco, com objetivos acadêmicos e culturais, nunca foi feita especificamente sobre esses caminhos, em seu conjunto orgânico-espacial da malha viária geral. Nós somos os descobridores de vários trechos .
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Havia um verdadeiro circuito, como hoje, de estradas e caminhos. |
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Ilhas de araucária |
2-Caracterização geomorfológica
A região está no Vale aluvial do Rio Turvo, na região do Brandão.
São campos de altitude, inclusive com presença de Araucária angustifolia, porém, ecologicamente falando, em pequenas ilhas existenciais e tem o chamado mar de morros, formação geológica de montes de peque e média altitude, em cujos cumes e pequenos vales de riachos são mantidas manchas de mata.
Há lajes e matacões graníticos por toda área.
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Descrição anatômica de partes da Araucaria angustifolia por Siebold & Zuccarini, em Flora Japonica, 1870 |
3- Contextualização socio-econômica
Acostumados a lidar com tropeiros, caçadores e toda sorte de passantes, por mais de 400 anos, os moradores são acolhedores, tem caráter firme e sempre tem soluções estratégicas para o meio natural e os desafios antropológicos.
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A agência Bocaine-Se Turismo e Aventura, do Joaquim Leonardo da Silva Valim, foi que nos levou. Tivemos ainda o Gil Fonseca e o Paulinho.. |
A necessidade das prioridades rurais de transitar para comércio de leite principalmente, está causando a retirada proposital do calçamento ancestral. Versão duvidosa dos nativos, é que as pedras podem soltar e causar prejuízos mecânicos e acidentes, porém, eles retiram a pavimentação e deixam no barro cru, o que, contraditóriamente, nas primeiras épocas de chuva, transformarão a estrada rural em atoleiro.
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Rancho-curral |
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Fazenda da região. |
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No sítio do Paulo Andrade, Paulinho, temos resquícios construtivos em estilística canjicado em pedra seca. |
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Trecho inicial |
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A garganta ao fundo. |
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Pirâmide |
4-Um caso especial: o pouso
Após o primeiro trecho de curvas sulcadas artificialmente (nível), encontramos um platô medindo aproximadamente 100 x 100, onde existe ainda uma casa caipira, abandonada, porém de tamanho e repartições considerável, atualmente de propriedade do Sr. Antônio, irmão do Paulinho, já citado.
Fazendo uma análise do terreno, das paredes e da ambientação geral, verifiquei que ala casa atual está sobre uma outra fundação, de pedra, inclusive usando parte dos muros antigos.
Esse platô, tem características de importância que sobressai a mera moradia rual de subsistência: tem água, enorme espaço plano e fica exatamente no último trecho de cortes da estrada (2°, de quem sobe do Turvo) antes da virada para o planalto do Pirahy (no caso, um afluente pequeno, o Córrego do Bacalhau), já bem depois da vertente.
Oralidade atestam ter sido uma casa senhorial mais antiga de uma família de Bananal-SP.
Terá sido ainda anteriormente um pouso ?
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Típico tesouramento rural caipira |
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Mescla de épocas |
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Fundação |
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O telhado segue em harmonia com o relevo. |
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Visão de todo a Estrada, do platô |
5- Ampliação do espaço excursionado.
A equipe decidiu continuar a Expedição e foi identificando os elementos marcantes da paisagem, como a rocha pirâmide ( -22.764786,-44.312567) o rancho-curral e o trecho das curvas de nível artificiais especificamente da Estrada, em -22,7668188, -44,3145400 aproximadamente.
Chegamos a 1300m de altitude.
Ali constatamos vários traços do calçamento original , porém, com várias marcas de erosão e deslocamento natural de massas.
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Trecho inicial |
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Formação geológica pirâmide |
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Traçado original |
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Arrimo? |
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Cinta |
6-Tipificação:
O conceito aplicado para a construção ainda está indefinido, assim decidido pelo chefe da missão, pois ao contrário de outros caminhos antigos e estradas históricas estudados, no trecho percorrido até a vertente da Bocaina, o pavimento está bastante introjetado no solo e recoberto de gramíneas. Em amostras que registramos, tendencia para o estilo moldura, mas em nossas novas incursões, faremos o diagnóstico definitivo.
Na Expedição Caminho da Pedra/João Oliveira, detectamos formas mistas de desenhos na engenharia.
Clique aqui e conheça a Expedição Caminho da Pedra/João de Oliveira
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cinta |
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Peças grandes |
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Profundidade |
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Arrimo? |
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cinta ou faixa |
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Mapa com as redes de estradas:IPHAR |
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Desenho ilustrativo, de ambiente real, de Agnes Ethel a partir de visita in loco no bairro Zungu,Angra dos Reis-RJ, na Expedição Caminho da Pedra/João Oliveira. |
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Caminho da Pedra, Angra. |
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As curvas de nível em direção a garganta da Macieira. |
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Colorização para facilitar. |
Nas Cartas Topographicas da Capitania do Rio de Janeiro, de Vieira Leão, de 1767, temos a presença do Caminho do Caramujo, mas não a estrada da Pedra/João Oliveira/Ramos, pois eram meras trilhas, porém, havia já alguns calçamentos esparsos em brejos, lodaçais e rios...em poucos caminhos do século XVIII.
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A equipe constatou a mesma inovação para a época do da Estrada da Pedra/João Oliveira: canaletas de rocha maciça, para drenagem pluvial. |
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No cume, dita vertente, antes de descer para o planalto do Pirahy, o calçamento continua, porém, sem erosão devido a floresta. |
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Montagem , com fotografias reais de reprodução da indumentária que fazemos. |
A obra é do século XIX, porém, o desprimor pode ser indício de sobreposição de outras épocas e métodos de montagem ou até diversas reformas. Deixamos aberta a comprovar, maior dilatação cronológica, pois trata-se de rota de uso citado inclusive ulterior ao ciclo aurífero (ABREU, João Capistrano de. Capitulos de Historia Colonial. Caminhos antigos e o povoamento no Brasil. Brasilia: UnB, 1982 e Sales, Cristiano Lima Ref: f. 309-323.)
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Moeda do século XVIII |
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Moeda do séc. XIX, que circulava na época do apogeu da Estrada da Pedra (nosso acervo) |
Testemunho documental de que havia intenso tráfego de tropas com centenas de muares e bovinos, além de caixeiros viajantes e contingentes de escravizados para fazendas da região, são as Atas da Câmara de Vereadores de Bananal-SP, onde se lê, no jornal periódico:
Outro documento importante é a citação em outro periódico, com pedidos de manutenção:
Portanto, nessas publicações de 1835, se vê alguns aspectos e tiramos alguns direcionamentos:
1-A importância econômica e social da ligação Jurumirim x Bananal e outros portos citados.
(A 2° cidade mais movimentada do Brasil , fora a Corte/Rio, citando Laemmert, in Vasconcellos, Maria Cristina Roma, Famílias escravas em Angra dos Reis, 1801-1888 - ABPHE)
2- A cotização entre os capitalistas imperiais da região para que o fluxo comercial fosse continuado.
3-A presença estatal com um Registro.
4-Que cada bairro grande, sedes de Distrito de Angra dos Reis-RJ, a partir da Japuiba, como o atual Ariró, Bracuhy, Frade, Mambucaba...tinham seu próprio e movimentado porto!
5-Tal como teorizamos há anos, o Caminho (Estrada) da Pedra tinha interligação direta com o nosso descoberto Caminho do Caramujo.
Clique aqui, e conheça o Caminho do Caramujo, descoberta inédita do nosso grupo
Tecle aqui e conheça a visitação trazida por nós, de arqueólogos e historiadores ao inédito Caminho do Caramujo
7-As peças do estrado lítico
Talvez pela abundância de material rochoso e portanto a possibilidade de oficinas de mineração próximas para a confecção do piso, o calcetamento robusto usou indivíduos com apenas o lado externo ao arruamento, lavrado grosseiramente, sem muito critério de seleção, porém de grande porte: a média dos espécimes tem variação entre de 1,1m de comprimento x 0,80m de largo, com profundidade de 0,15m., sendo as maiores de cinta estabilizadora nas laterais da rua.
A largura da estrada é de 4m até a vertente.
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Resplendor do altar da Igreja de Nsa. Sra. dá Lapa, do Ariró, Angra dos Reis-RJ. |
8- Conclusões (transitórias).
A trajetória que percorremos e a análise temporal e material indicam ser do século XIX, mas há indícios de maior antiguidade.
A Expedição Bãnan-y 3 será o marco para a interligação lógica de entendimento das ramificações tanto físicas quanto culturais.
Carlos Eduardo da Silva
Prof.Lic.Hs.
Bananal-SP, 30/07/22