domingo, 29 de setembro de 2024

EXPEDIÇÃO TÉCNICA RUBIÃO: ESTRADAS HISTORICAS E CAMINHOS ANCESTRAIS


A região da Costa Verde fluminense é uma das mais antigas em movimentação humana da América. E as trilhas de Mangaratiba -RJ fazem parte desses itinerários ancestrais, não só do período colonial e imperial, mas também da era holocênica (e seus desenvolvimentos humanos pré históricos).

1-Inicio

O objetivo dessa missão está dividido em dois eixos: identificar o piso da dita Estrada do Atalho de 1835 e outras estruturas e mapear antropológica e geograficamente a trilha serra acima Muriqui x Rubião.

A equipe formada teve o guia Alessandro do Café  na Trilha (MTur ), o arquiteto Gil Fonseca, o pesquisador e especialista em miniaturas históricas 3D (de perspectiva real) Alex Rocha, a pesquisadora e apoio logístico Maria Célia e eu, como historiador.




2- A Vila do Saco

sua pujança e ruínas atuais(Parque) são apenas uma distante e pouco valorizada memória do que de fato representou aquela região. 

As paredes bicentenárias , altas e imponentes dos lupanares, galpões de escravos, vendas para tropeiros e tavernas são o símbolo de uma época de entradas e saídas de milhares de viajantes, livres ou não, que movimentava a economia.



Paredões sem embolso,
demonstram
diversas tentativas
de reformas e elementos
 estruturais enxertados
em diversos períodos 

A construção da Estrada nova (ou do "Atalho") também significou uma nova injeção de dinheiro e demandas ao vilarejo; milhares de escravos , artesãos portugueses (lavra), piratas e até ingleses e escoceses, fez com que pequenas vendas e empórios se desenvolvessem ao longo do caminho.Diz-sr que o comércio humano escravista era praticamente livre.

Provável sobrado
comercial e teatro


A técnica construtiva
do canjicado


Em nossa incursão, observamos vandalismo das ruínas majestosas, com muita pichação e também algum enraizamento vegetal, o que enfraquece os paredões e sacadas. Porém, há alguns anos, a prefeitura tomou uma boa iniciativa de instalar bancos , correntes decorativas e iluminação artística, elementos que estão precisando de manutenção.

Porém, naquele núcleo urbano, apinhado de gente e ratos, pululavam murmuração e protestos contra impostos, apoio a pirataria e práticas anti imperiais...

 3-Estrada do Atalho e sua configuração construtiva .

A estrada dita do Atalho, nada mais foi que uma nova rota privada para o mar. Porém, entre 1835-57 a estrada passou por vários problemas de manutenção, diversos contratos desrespeitados e a diminuição e desvio do fluxo de tropeiros e cargas devido a nova tecnologia ferroviária incentivada pelo Governo imperial, o que sucumbirá o empreendimento a falência. 

A inovação dessa estrada se destacou na época foram as adaptações estruturais baseadas no clima e geografia, confirme conceitos de Thomas Belford, onde se usavam camadas de pedras maiores na base + pó de pedra compacto + argila prensada por rolo compressor na superfície (descrição de Almeida & Oliveira, 2022)

Os contratos assinados por Bernardino José de Almeida e pela Cia. Industrial de Mangaratiba determinavam, entretanto, que a estrada utilizasse o sistema moderno de John McAdam. No século XIX, o método sugerido pelo engenheiro escocês era amplamente utilizado na Europa e nos Estados Unidos da América. McAdam, ao final do século XVIII, constatara que a base rígida usada desde o período romano era dispensável, pois as tensões geradas pelas cargas dos veículos diminuem com a profundidade, não sendo necessário o uso de aglomerante, já que impede o escoamento das águas.




Ali, nossa equipe percorreu o trecho correspondente desde a planície até o marco de quilometragem em pedra número "1". Ali pudemos identificar placas explicativas colocadas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira -IAB. Também fomos aos atrativos fluviais como nomes de "poços".










Crianças brincando
 livremente 





Marca de bomba
 de dinamite





A estrada tem muretas e terraças


Atrativos de
lazer sinalizados

Marco de
 quilometragem "1"

Placas de
identificação
arqueológica






Detectamos boa conservação feita pela prefeitura, inclusive com limpeza da vegetação, mas já apresenta desmoronamento nas laterais em curvas, devido a lixiviação das torrentes pluviais. 

4- A trilha, a Fazenda e as cachoeiras

Voltamos para o bairro do Saco e de lá, chamamos transporte de aplicativo , deixando nosso carro nas vagas públicas das Ruínas. De aplicativo subimos a Serra do Piloto e fomos até a entrada da Estrada do Rubião, onde fica uma pequena praça e escola .


    6 .1- a posse da terra e a Igreja Católica como fator de proteção social

Seguimos em uma estrada larga, com vários sítios e fazendas pequenas, mas também a história recente se mostra bem clara: estruturas de religião cristã ainda estão de pé, como pequeno arraial com um Centro Pastoral e  Cruzeiro .

Essas construções vem dos anos 1970-90, quando as terras devolutas e tomadas pelo Estado começaram a ser disputadas por posseiros antigos legítimos e a especulação imobiliária. A Pastoral da Terra, entidade da Igreja Católica, prestou assistência jurídica e espiritual aos sitiantes ameaçados, além de organiza-los.

Passamos por estruturas da Igreja Católica que realmente lembram a organização social e a religião em prol dos trabalhadores.

Centro de Formação ,
 com Cruzeiro.

  6.2- a sede da  Fazenda

A Fazenda Rubião é do século XIX. Sua origem remonta a um complexo de fazendas de produção de aguardente e alimentos diversos, que desde o século XVII.

Seu estilo atual é neoclássico dos 1800 com híbrido do início do século XX.



Igreja/capela



Conjunto arquitetônico 

Roda d'água 

Nela existe um belíssimo lago e em volta um capela e uma roda d'água, formando um conjunto visual belíssimo de paisagem.

Há recentemente uma tentativa de receber hóspedes e visitantes mediante agendamento.

A fazenda já teve episódios famosos e traumáticos, desde um estrangeiro que do nada chegou com capangas em 1954 e tentou desmatar a serviço de um carvoeiro de Barra Mansa , até um traficante de cocaína colombiano que lá montou um laboratório, chamado Ivã Lespreto .

6.3- Continuamos a trilha..

Da estrada RJ-149, seguimos caminhando por vales, sítios e paisagens magníficas. 

Rugosidade de
uma árvore gigante 

Árvore da floresta
 ombrófila densa

A estrada propriamente dito termina logo após a sede da fazenda, uns 800m, numa porteira. Ali pode-se abrir a porteira e passando entre cavalariças e currais, tem uma bifurcação, só pegar a direita e subir a montanha, agora, por trilhas, sem acesso de automóvel (ver foto e mapa de coordenadas).

A subida após
o fim da estrada

Mirante natural

Importante, já na trilha após a porteira e dentro da mata, tem uma bifurcação onde há uma placa escrita "fonte", siga subindo, não entre em caminhos opcionais.

É o caminho do cume para a vertente da serra do mar/Mata Atlântica...de onde se descreve e começam os atrativos maiores as cachoeiras.(Ver fotos e mapa de coordenadas).

Após o chamado cocuruto ou em linguagem formal, o cume ou vertente da Serra marítima, começamos a descer por um caminho de trilha sombreado e com muitas bifurcações, certamente de caçadores e mateiros, mas continue descendo. Infelizmente, as entradas das belas cachoeiras não tem indicação, por isso um guia nativo é importante.

Véu de Noiva eo símbolo das
 Olimpíadas Rio 2016




Cachoeira do Palhaço 



Cachoeira da Bota



É ali na região frontal ao mar, acima dos bairros Muriqui, Cachoeira 1 e Cachoeira 2 que estão as Cachoeiras Véu de Noiva (símbolo da Olimpíada), do Palhaço e da Bota.











6.4-Epilogo 

Assim, mais uma trilha e estudos foi feita. Com boa equipe , conseguimos amealhar mais dados e registros historiográficos, alguns inéditos, para nossas prospecções de campo, além de uma experiência sensorial múltipla.

Carlos Eduardo da Silva 

Prof Lic.

Pres.IPHAR

Sábado, 22 de junho de 2024