1- Início
O planejamento dessa missão foi elaborado baseando o conhecimento territorial empírico do Vagner Carneiro , nosso guia local e cruzando dados com narrativas históricas do século XIX , mapas antigos, documentos coloniais e ainda, estudo do relevo da região da Mata Atlântica e as escarpas da Serra do Sinfrônio e Serra D'água.
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Esq. p/ direita: Eduardo, Ivan e Vagner |
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Mapa com caminhos e estradas do século XIX. |
2- A Lenda e a História.
Desde o século XVI, como já citamos na Expedição Técnica Arandú , a região montanhosa e suas cadeias de formação granítica do maciço da Serra do Mar sempre tiveram relatos e evidências de caminhos milenares de ligação entre o Vale do Parahyba e o litoral da Baia da Ilha Grande. A expansão antrópica se fez por desfiladeiros ou gargantas .
O aproveitamento pós-cabralino desses circuitos, exercido pela pressão de demarcação territorial em primeiro plano, mas depois pelo comércio aurífero e o café em seguida, produziu uma verdadeira tecitura de rotas e interligações .
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Moeda vigente. |
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Emmanuel Pohl, um dos poucos a registrar os caminhos e passou nas montanhas , em 1821. |
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Mulher Puri: tinham ligações com o litoral e percorriam essas selvas. |
A população local e mais antiga, sempre teve no seu imaginário coletivo a presença quase fantasmagórica e na oralidade, do Caminho (e posterior Estrada) que estamos registrando. Os quilombolas , os mateiros, caipiras e caçadores sempre comentaram os pontos -referência como a Pedra Ponteira, a Pedra Pingadeira, o Picadão , etc...tudo desconhecido pelos ditos intelectuais angrenses e de nível estadual/nacional é essa geo - culturalidade só pode ser anotada, com o nosso trabalho de campo e de infiltração antropológica, numa dialética sincera e escuta ativa daqueles que vivem esse ambiente no cotidiano.
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Único resquício do piso original sem erosão. |
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Vale da Ribeira |
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Cachoeira da Ponteira |
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Antiga malha ferroviária EFOM, depois Centro Atlântica e agora, devolvida ao DNIT(2013) |
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Conforme se avança a Expedição, a inclinação aumenta . |
3- A Expedição : origem do nome.
Em 2022, percorremos parte da Estrada que acreditamos ter sido usada para o traslado da comitiva do botânico e pesquisador austríaco Emmanuel Pohl, na Expedição Gamboa , e os estudos continuaram , com aprofundamento em parcas fontes literárias e mapas antigos. Tudo sem muito lastro. O viajante Pohl esteve numa choupana , na noite anterior a chegar no atual Centro de Angra , que segundo ele, ficava numa área chamada Gamboa...daí o nome.
4- O dia da trilha: o aguaceiro e a chuva de conhecimento.
O sábado de setembro , o dia 13 não estava com boa previsão climática : seria um dia nublado mas com pouca chance de chuva; nos enganamos. Iniciando no bairro Belém e com parte percorrida na estrada ferroviária da antiga EFOM/Estrada de Ferro Centro Atlântica (FCA) administrada anteriormente pela VLI, o trecho da EF-045 e agora devolvida ao DNIT, e logo após, entramos na floresta e nos deparamos com um sítio arqueo-histórico , que denominamos "vigia", pela conformidade física das estruturas. A presença de limoeiros e plantas de jardim exóticas na mata , mesmo antes de identificarmos as estruturas de rocha lavrada, já denunciavam fixação humana. Mas ali começou uma tempestade que praticamente nos acompanhou durante todo o tempo da trilha restante .
O temporal não transbordou os córregos, mas a crista das montanhas estavam sendo tomadas de nuvens . Embora ainda estejamos longe do período de força pluvial (verão), setembro já começam os arranjos de temperatura e pressão.
5- Metodologia:os sítios arqueológicos inéditos
Conseguimos alcançar arraiais e conjuntos de estruturas que dividimos em três sítios : o "Sítio Vigia", o "Sítio Ponte" e o "Sítio Barreira".
Destarte essas denominações, ainda temos o próprio piso e obras de arte de engenharia da Estrada, que aparecem em alguns lugares, sendo na maior parte erodido ou sob vegetação.
5.1- Medições, tomadas de fotografia e registro de coordenadas .
Como praxe, fizemos o registro de fotografias em vários ângulos para posterior identificação de técnicas de edificação e também de estilística . Além disso, medimos os resquícios visíveis dos imóveis para reconstrução de modelos pré-visuais comparativos.
Infelizmente, com a tempestade, os aparelhos e aplicativos tiveram panes temporárias e voltaremos para o registro geodésico.
5.2- Estilísticas conflitantes e modelos gráficos.
A seguir, apresento os moldes baseados unicamente nas partes ainda eretas e plantas baixas possíveis em muretas detectadas; além do material lítico, botânico e argiloso prospectados.
Assim, foram separados em Sítio Vigia (A), Sítio Ponte (B1 e B2) e Sítio "Barreira" C1 e C2). Sendo:
🔸A- Imóveis de apoio de taipa de pilão ou mão, com vergas de madeira e piso de adobe. Cobertura de sapê ou palmeira local. Função militar/estatal.
🔸B1- Passadiço/tabuleiro simples e retilíneo de madeira , sem pilones e com apoios/cabeceiras retas de rocha de mina local e de morfologia granítica. ; técnica rudimentar de pedra seca dita de mão e semi-canjicada.
🔸B2-Passadiço/tabuleiro elaborado , com arcos de reforço e viga principal robusta .
🔸C1- Arrimo ígneo formando mega estrutura de terraça em L com 90° e estilística pré-imoerial /não canjicada . Imóveis de taipa de pilão ou mão com vergas de madeira e assoalho sem piso trabalhado aparente. Função militar /estatal.
🔸C2- Imóvel aberto aos lados, de pilares de madeira e cobertura rudimentar de sapê ou palha local. Função de poio ao fluxo ; civil e comercial.
🔴Observação: as projeções a seguir pertencem ao IPHAR e são inéditas ; citar a fonte em quaisquer outras publicações.
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Projeto A |
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Projeto B1 |
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Projeto B2 |
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Projeto C1 |
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Projeto C2 |
6- Epílogo
As pesquisas por prospecção de campo continuam. Nesta trilha , além do objetivo que era identificar , mapear e compreender regionalmente o fluxo antropológico , também serviu para mais informações sobre a situação da ferrovia centenária , seus equipamentos e também como ampliação do nosso projeto de taxonomia botânica de endemismo.
Continuam as pesquisas...
Carlos Eduardo da Silva,
ProfLic, 15/09/25