quinta-feira, 26 de agosto de 2021

EXPEDIÇÃO TEÓLIFO-JORGEN: REVIVENDO A FERROVIA CENTENÁRIA

 Uma viagem no tempo!

A Expedição Teolifo-Jorgen percorreu  aproximadamente 28 km, entre a estrada férrea e uma pequena parte da estrada de rodagem do bairro Pontal.


1- Resumo histórico

O projeto de expansão da então EFOM (Estrada de Ferro Oeste de Minas) , conhecido como SR-2, teve início ainda no século XIX, mais exatamente em abril de 1893, com a assinatura do contrato de concessão.

Contrução em estilo germânico,
 com telhado frontal rebaixado
.

Somente em 1910 chegaria ao povoado de Capivary (atual distrito de Lídice), pertencente a Rio Claro. Simplesmente após 10 anos, a obra se ergueu pelo planalto de 8 km até os 593m de altitude, inaugurando a icônica Estação Alto da Serra. 

Meus avós Antônio Telmo de Oliveira (Vô Tonico) e Maria do Carmo de Oliveira (Vó Carminha) e tios ainda jovens, iam a pé desde o Alto da Serra e do Rio das Pedras até essa estação para irem a Angra dos Reis.

Trajes típicos do século XIX reconstituídos por nós,
faz parte do trabalho de resgate cultural.


Ali havia expedição de correspondências e malas, restaurante e dormitórios. Uma característica curiosa, é o banheiro externo, típica casinha, que até hoje se encontra de pé...

A  excelsa missão de abertura de cortes de morros, levantar grandes terraças, pontilhões em arcos romanos e montar viadutos de aço armado, além da implantação do telégrafo a posteriori, significou o esforço humano mais árduo no contexto de pouca tecnologia e quase nenhum acesso motorizado pelas montanhas e penhascos com alturas que alcançam entre um leito de ponte ao outro lado, de até 20-25m de altura de vão!

O uso de dinamite, carroças e o papel do apoio tropeirista, com mulas e cavalos, foi fundamental.

Em 1928, chegava então a última etapa da implantação ferroviária na Praia do Anil, em Angra dos Reis.

Locomotiva chegando no porto em Angra dos Reis-RJ.
Ao fundo, o Convento da Ordem do Carmo
.


2-Percorrendo quase 30 km !

A situação é de total retomada da natureza e da biota da Mata Atlântica sobre a mega estrutura.

Iniciamos no viaduto sobre a RJ155 (-22.843918,-44.209397) e partimos com a equipe formada por um arquiteto, um historiador, um ex secretário de Meio Ambiente , estudantes  e outros profissionais. Estava fazendo 16°C aprox. e era 8:00h.

Passando pelo cruzamento da estrada de terra, que corta a ferrovia e liga a empresa de granja Rica, chegamos ao Km 40 da ferrovia, onde se verifica a invasão do leito ferroviário e o loteamento ilegal das margens, por barracos claramente com fins especulatórios, inclusive na década de 1990 e depois em 2018, quando passei nesse trecho, é chocante a diferença de devastação florestal...agora avançando com desmatamento e queimadas após os trilhos, ou seja, acima da ferrovia.

Vale do Alto da Serra: totalmente degradado.


Depois o matagal da trilha se fecha mais , inclusive com uma cerca de arame farpado atravessando e fechando o caminho...

A Estação Alto da Serra (no Km 37), encontra-se sem vegetação, mas com muitos detritos dentro e o telhamento colapsando...com falhas de cobertura em vários trechos.











Encontramos mais de dez cavaleiros e amazonas dentro do túnel próximo da Estação Alto da Serra, vinham do bairro Serra D'água, revivendo os tempos que meu bisavô Sr. Evergisto , Seu Gito, como arrieiro  de tropas de muares, percorria, no início do século XX...


Trajeto


Já na descida do Caminho do Caramujo(século XVIII), que desce a Serra D'água até a RJ155, após a boca desse túnel, um cavaleiro viajante pediu ajuda pois estava com o cavalo teimando em não prosseguir viagem, a ponto do nosso membro Valnei ajudar, puxando a corda e aí o animal andou...

Seguimos a caminhada, atravessando pontes armadas com seus caibros enormes de décadas, com vistas e panorâmicas da Bacia do Jurumirim e com visão sempre onipresente do Pico do Frade.




O local conhecido como  Mirante do Chuveirinho (-22.908278,-44.256350...?), apresenta deslocamento de partes do paredão/laje rochosa , com grandes lascas que caíram sobre o trilho, demonstrando instabilidade do paredão, além de arbustos , gramíneas e árvores de médio porte sobre a linha. Os trilhos continuam lá e o parapeito de metal também. 


Atravessamos vários pontilhões , que aparentemente desde 2018, em nossa última visita, sofreram poucos desgastes estruturais, porém há deslizamentos e charques diversos em vários trechos, principalmente nos cortes de morros originais.





A parte de infraestrutura hidráulica, portanto das obras de arte para escoamento tanto fluvial quanto para águas pluviais, continuam funcionais, ainda que algumas caixas coletoras estejam obviamente assoreadas e uma ou outra, já com sinais de inundações sazonais, com sulcos profundos e deslocamento de dormentes.

A beleza cênica do percurso é apaixonante!



São vales profundos que se abrem nos trechos de pontes suspensas,  cantos de pássaros , recantos com corredeiras vertiginosas que descem refrescantes e vão alimentar o Vale das Águas Lindas, o Vale da Fazendinha e enfim, o grande rio Jurumirim, além de em alguns locais do percurso, terem crescido espécimes que formam verdadeiros jardins, como o mar de samambaias de solo (Blechnum brasiliensis) e os bambuzais (Bambusa vulgarisvittata) .


O grupo já extenuado, passou por mais de 2h por trechos fechados e escuros, dando sensação de abafamento, na altura do trevo BR 101 até o Pontal, um trecho perigoso, principalmente na travessia dos vãos elevados(pontilhões) , devido ao necessário equilíbrio físico e psicológico.

Capela do bairro Pontal:
região do início e fim da Expedição
.


Também recomenda-se o uso de calça comprida de tactel ou poliamida extensíveis e flexíveis e camisas de manga longa, principalmente por causa dos espinhos do morango silvestre (Rufus rosaefolius) e do arranha-gato (Acácia plumosa), além de  mosquitos e da presença de carrapatos.

3-O nome da aventura

A Expedição Teolifo- Jorgen carrega um nome muito simbólico: é o nome composto formado pelas identidades  dos dois engenheiros que assinaram as obras monumentais que marcaram a construção da ferrovia EFOM(Estrada de Ferro Oeste Minas), no trecho Lídice (então Capivari) x Angra dos Reis, do período 1910-1921.

Os responsáveis técnicos pela odisseia da façanha de singrar as escarpas graníticas da Serra D'água e construir túneis sob montanhas  foram , respectivamente , no 1° trecho (Rio Claro x Alto da Serra/1910), Teolifo Monteiro Carvalho e o dinamarquês Gorjen Radmus Peterson, 2° trecho(Alto da Serra x Angra dos Reis/1921).


Porém, também lembramos os pioneiros mais heróicos,que foi a equipe de topografia , esses sim, os primeiros a percorrer a mata ombrofila densa ainda selvagem, em meio a abismos, onças e cobras venenosas...para traçar as coordenadas.



Além deles, os trabalhadores braçais e operários de explosivos, que ficavam pendurados em plataformas de madeira e suspensos por cordas...

Amostra de elemento constitutivo/fixador
(Não foi removido; já estava solto na mata
)


4-Epílogo

Chegamos no Pontal. Ali, com uma picada já bem marcada, descemos uma antiga estrada de acesso as torres de alta tensão e depois o sertão do Pontal, certos de que embora cansados, revivemos apenas algumas horas da grandiosa ferrovia centenária!









segunda-feira, 9 de agosto de 2021

🖤 NOTA DE PESAR: FALECE SRA. PAULINA EDUARDO RAMOS ROSA, A CAIÇARA QUE UNE DUAS FAMÍLIAS ANTIGAS.

 Nós , angrenses caiçaras e amigos , lamentamos o falecimento (30 dias em 08/08/21) e honraremos a memória para sempre, da Sra. Paulina Eduardo Ramos Rosa, esposa do Sr. Luís Rosa, falecido em 2015.



Ela foi homenageada por nós em :

Acesse aqui a homenagem que fizemos


Unindo dois nomes antigos de famílias caiçaras do século XVIII, a dona Paulina foi o marco afetivo de gerações da Ilha da Gipóia.


Agora, ela encontrou a Imaculada viva, que tantas vezes representou no artesanato típico de Angra dos Reis-RJ, através do peixe cavala...