quarta-feira, 20 de março de 2024

Expedição Sapucahy: a trilha perdida e seus tesouros antigos no litoral


 1-Intróito

A Expedição Sapucahy , desenvolvida na região da Ponta Leste, litoral de Angra dos Reis-RJ, teve como premissa:

🔸Reidentificar a antiga trilha Forte do Leme x Praia de Maciéis, esta sem uso desde a tragédia climática ocorrida no município em vários bairros, em 2010, com mortes e destruição por intensas chuvas.

🔸Revisitar as ruínas do Forte, verificar a situação dos canhões Armstrong e ainda documentar o piso hidráulico do início do século XIX, da chamada "Casa do Capitão/Comandante".


Essa trilha foi diversas vezes percorrida por mim desde a adolescência, nos anos 1990 e 2000.

Era muito usada na época (do século XVIII a meados dos anos 1970), tanto por caiçaras nativos quanto por soldados (Terço) a serviço nas baterias de canhonetes coloniais e posteriormente, do turno militar da 1° República, no Forte do Leme. 






Obras pluviais desfiguraram
 o início da trilha


Piso original

Ruas abertas na floresta



Abaixo, azulejos hidráulicos da Casa do Comandante:



Padrão de piso hidráulico: padrão identificado.



A Expedição leva o nome da ex-futura ferrovia litorânea que era projeto desde o século XIX e que na 1° República, quase se concretizou, sairia do Rio de Janeiro a Angra e seria a via de locomoção para apoio ao projeto de Arsenal de Guerra da Marinha a ser implantado em Angra dos Reis-RJ e a indústria portuária, estudada por nós inediatamente e feito levantamento pedagógico das estruturas prontas da época.

Clique aqui e veja nosso estudo sobre essa ferrovia...

2- Início

Começamos em frente a portaria da Transpetro, onde há uma ladeira. Qual foi nossa surpresa ao encontrarmos um canteiro de obras enorme, com tratores, etc...que abriram várias ruas de acesso a montanha e muita lama. Outrora era um caminho em solo natural em meio a mata.

Agora, aparentemente a serviço da Transpetro, a empresa está construindo diversas redes de escoamento pluvial e muros de arrimo.


A deformação da paisagem realmente atrapalhou o início da caminhada, a ponto de não acharmos a ladeira curta que ligo chegava a Casa do Capitão...

Tivemos de seguir pela estrada de acesso (pavimentada), após seguirmos por uma dessas vias de trator. Na volta , conseguimos rastrear a passagem original (texto abaixo).

3- O Forte do Leme e seus canhões gigantescos

A visita ao complexo militar do Forte começou nos canhões, que são dois e na sede do Forte, que aliás, preserva ainda , após tanto danos de abandono sob a e intempéries diversas, parte do piso hidráulico centenário, ainda com desenhos geométricos identificáveis.















Tratam-se de um conjunto harmonioso de prédios do túneis e peças de artilharia que ainda se mantém de pé, com  suas dobradiças funcionais (portão do prédio) , canhões em prontidão e até às tesouras do telhado de ferro, suspensas...

Clique aqui e conheça a arqueologia do sítio histórico do Forte do Leme e região

4- A trilha caiçara

No mapa abaixo , temos a situação atualizada:



🟣 Área remexida para obras de contenção da Transpetro, onde o início da trilha está, seguindo a cerca dos tanques de petróleo, até a direita de um muro de talude grande. Sítio Arqueológico da Casa do Capitão/Comandante.

Situação: é a partida da trilha, ao lado esquerdo de quem olha o mar, do casarão apresenta grandes árvores entrelaçando as paredes da ruína, além de preservar partes dos ladrilhos.

1-Inicio da trilha:

Situação:é a partida da trilha, ao lado esquerdo de quem olha o mar, do casarão. Pouco acidentada, ladeira suave.Cuidado com contato com animais peçonhentos.

2-Desvio para a praia

Situação:continuação apagada pela vegetação. A trajetória mais visível que é numa enorme cratera e um tronco de árvore, leva a Praia do Aniquim.





















Na praia, existe um belíssimo monólito oval que serve como mirante , além de parte de um centenário porto de metal. Após o monólito, na verdade paralelo a esse, está na própria costeira uma passagem até o canto esquerdo de quem olha o mar...ali recomeça a trilha. A travessia pelo costão rochoso é perigosa e com pedras soltas. 

3- A terraça da Guarda colonial

Situação:É uma das mais espetaculares estruturas coloniais de Angra dos Reis, uma terraço a beira mar, que servia de observatório da entrada da Baía da Ilha Grande e Fortim com canhonetes. É uma armação de pedra seca com aproximadamente 3m de altura e 30m de extensão. Tem um pé de manga muito grande e antigo.

A trilha continua a esquerda , atrás do espaço.

4-o ambiente marinho e as vistas deslumbrants

Situação:Nesse trecho, de uns 600m, quase plano, tem alguns obstáculos de rochas e abismos que dão na costeira e do outro lado, alagados e lamaçais, que parecem ser movimentações artificiais , seja para o leito da ferrovia Sapucahy ou trincheiras do fortim de baterias já citado.A vista do mar é linda e quase contínua. 


5-Casas, ladeira e servidão

Situação: Ao longe se avistam muros, cercas e casas no meio da mata e se chega a uma pousada que deve-se subir a ladeira até o portão de madeira e no canto, contíguo ao portão, há uma servidão que leva finalmente a praia de Maciéis.








Túneis fluviais da ex futura Linha Sapucahy, de quase 130 anos ainda estão funcionais!!!







5- Epílogo

A missão fez grande avanço no conhecimento geomorfológico da área e levantou novos dados historiográfica da ocupação humana daquele trecho da Ponta Leste. Reaver a trilha da comunidade tradicional caiçara também foi importante, mesmo com falhas pelo desgaste natural do traçado, que em partes desapareceu.

Além dessa preocupação científica, também pudemos sorver o tempero afetivo de tantas vezes ter passado ali há 20 anos. Sentir e contemplar também o belo cenário , que aliás é típico numa cidade com 8 mil anos de civilização: natureza e História juntos!

Carlos Eduardo da Silva

Prof.Lic.Hs.

18/03/24


















quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

🖤NOTA DE PESAR🖤 Falece o Oseas, o garoto da praça..

O IPHAR, por seu representante Carlos Eduardo, vem noticiar o falecimento do Sr Oseas Manoel  dos Santos  o "menino" da praça do Mercado do Peixe, ocorrido há aproximadamente 20 dias, que com sua jovialidade octogenária encantava aquele território tão caiçara e angrense.


O atraso na notícia é muito simbólico: assim como em vida não foi famoso , nem influencer, nem bajulado por meia dúzia de falsos comunicadores angrenses...eu percebi sua ausência e poucos me deram a informação.

Obs: o vídeo está com nome trincado "Remédios" mas é Manoel dos Santos.

Na vida e na morte, o povo angrense esquece seus irmãos. Reflitamos sobre que sociedade estamos construindo. Aqui deixo essa nota de historiador que sou.



Seu artesanato retratava objetos reais do inconsciente coletivo regional e também de sua própria biografia no Mamanguá, em Paraty-RJ  como canoas caiçaras (ubás), remos, formas geométricas, ferramentas, peixes, tartarugas, e os mais inusitados: pirâmides, formas helicoidais e correntes (umas mais raras, sem colagem nos elos!!) e as décadas de colaboração no Hotel Palace.


Eram peças feitas a mão, de grande elaboração técnica, e o mais incrível: com intenção ecológica, pois eram madeiras de refugo(lixo).

Em 2022 , por minha indicação e do amigo Paulinho do antiquário, a UERJ entrevistou o Oseas, para um projeto grande de registro e tese acadêmica. 

Acesse aqui e conheça a genialidade do Oseas

Agradeço pelos momentos mágicos...

Agora seus olhos azuis e tez amorenada vê o brilho do sol que não se apaga ... segue na canoa de cristal em direção a ancestralidade  universal.

Carlos Eduardo da Silva

Repres.IPHAR

31/01/2024