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VISITA AO SÍTIO ARQUEOLÓGICO DA VILA DO ARIRÓ.
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RESUMO
Neste sábado (08/06), fomos visitar a capela Nsa. Sra. da Lapa, no bairro Ariró, as margens da BR101, -22,9095082, -44,3311449, onde assistimos a Missa com a Comunidade local e fui as ruínas ao lado da capela. Ainda voltaremos para visita técnica.
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HISTÓRICO REGIONAL
Citada a primeira vez em 1557, quando o alemão Hans Staden, publica seu livro "Viagem ao Brasil", no Capítulo 28, do Livro I,contando como ficou prisioneiro entre os Tamoios/Tupinambás, citando que o grande Morubixaba(líder) nativo Cunhambebe tinha sua principal maloca. Hans chama ,na sua interpretação literal e auditiva do que ouviu entre os indígenas de "Arirab".
Porém, é do século XVII,mas principalmente da segunda metade do séc. XVIII ao XIX que a região do Ariró e Bracuhy se destaca como principal porto de escoamento e cabotagem de todo a colônia e Império do Brasil .
Os caminhos antigos são mapeados e cortam as montanhas de florestas tropicais e escuros vales entre penhascos da Mata Atlântica, levando e trazendo escravos, tropeiros(inclusive meu bisavô Seu Gito/Hermegisto), animais de corte(suínos, galináceos...), índios idosos, tecidos, peixe, quinquilharias diversas, café, cachaça, ouro e pedras preciosas.
O porto da área da foz do Rio Jurumirim se torna um expoente comercial, incentivando inclusive os fazendeiros com apoio governamental, a refazerem as trilhas e implantarem técnicas de arquitetura pesada e engenharia construtiva, com colocação de estrado de pedra e estradas largas e até pedágio/escritório fiscal e Guardas .
Vai-se escalés, caíques e cutteres carregados de gente e coisas, pelo Rio Jurumirim e Ariró.
Diversas fazendas de café e cana, outros engenhos e capelas iam se espalhando.
🛑Ali especificamente havia a sede de uma fazenda até às primeiras décadas do século XX.
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Fazenda dos padres carmelitas |
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DESCRIÇÃO GERAL DAS CONSTRUÇÕES MEGA.
A sede atual da capela parece ser moderna, provavelmente da primeira metade do século XX (anos 50/60 ou até mais), tendo ampliação nos anos 2000, com acréscimo de uma Capela do Santíssimo, banheiro e Sacristia ao lado direito (mesmo lado das ruínas)e do lado esquerdo, um Salão Paroquial (reuniões, festas etc).
Entretanto , o perímetro de interesse arqueológico se constitui em um terreno contíguo a capela, com aproximadamente 25m/frente X 40m de lado, tendo apenas 3 paredões ainda eretos, sendo dois com 6m de distância entre eles e um mais afastado com também uns 5-6m (conforme esboço em anexo), sendo no método construtivo de cangicado, embora com muitas rachaduras, vãos feitos por árvores e aparentemente pouco indício de revestimento de embolso, mormente de conceitos com liga, provavelmente de óleo de baleia, o que remete a lapso temporal muito antigo.
Tanto a capela contemporânea quanto essas paredes, estão numa espécie de platô, carecendo ainda de mais estudos para saber se natural ou artificial. A igreja moderna está voltada para o centro do vilarejo( NE) mas os paredões , por não sabermos a entrada do recinto, não temos exato a direção.
🔹3.1-PAREDÕES:
Trata-se de técnica construtiva com montagem de grandes blocos graníticos variáveis com média entre 100cm x 20cm e o restante da parede com argamassa simples de barro e pedras menores na modalidade cangicado.
Essas muralhas tem em torno de 60cm de profundidade, 200 a 250cm de base e altura de uns 6-8 m.
Não detectei trabalho de cantaria.
Há potencial de jazida arqueológica.
🔹3.2- ALTAR -MOR E SUA TALHA:
De madeira, mas talvez base de argamassa, tem manufatura pictórica nos tons azul, branco e dourado.
O estilo é da tipologia barroco /rococó, de boa rebusquez, aparentando ser de alguma outra capela rural mais antiga . Entretanto não podemos ainda afirmar serem as muralhas do sítio arqueológico os resquícios de uma construção de uso religioso.
Este retábulo apresenta requinte nos elementos formais de arte, com duas colunas da ordem coríntia mesclada com dórica, colunas essas, caneladas, encimadas com misulas e no topo do altar, um resplendor mariano.
Possui trono e nicho central, além da mesa do altar.
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PERCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA
Eu conheço essa Comunidade Católica e essa região geográfica há mais de 25 anos. São muito participativos e alegres .
Mas alguns destaques são importantes:
🔹4.1-MUSICALIDADE:
Um dos detalhes mais bucólicos é que eles usam a sanfona como complemento aos violões, durante o culto divino, dando uma sonoridade típica. Aliás, há muito tempo não vejo um povo tão alegre , cantante e participativo.
Foram acolhedores desde nossa chegada e parecia que éramos moradores há décadas.
🔹4.2- ORGANIZAÇÃO:
Desde as indumentárias ritualísticas da liturgia, da divisão espacial a própria manutenção, tudo é muito bem feito.
É uma capela rural, sem altares laterais, mas as luminárias por exemplo são lustres ao estilo colonial.
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EPÍLOGO
Foi uma experiência pastoril, inclusive porque o crepúsculo outonal estava com o céu totalmente azul, com nuvens laranjas ...dando um aspecto de comunhão entre as cores do altar e as cores da natureza.
Ao longe, o imponente Pico do Frade com uma auréola alaranjada completava o cenário .
Pesquisei algumas fontes bibliográficas para tentar coletar mais informações historiográficas, como o livreto do Projeto Memória e História, dos anos 2000, feito pela Secretaria Munic. Educação, com textos, entrevistas e desenhos de alunos da rede de vários bairros, mas não achei sobre o Ariró.
Enfim, um local de antiga presença humana, que merece pesquisa mais aprofundada.
Carlos Eduardo
08/06/19