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No Estado do Rio, existem diversos povos e suas tecnologias típicas, que se desenvolveram conforme o ambiente natural e cultural.
🌐1- Intróito histórico
Aqui, abordaremos a canoa caiçara e seu território antropológico e o barco de boca aberta ou escaler, do Norte fluminense.
No endereço eletrônico oficial da Marinha,
Clique e conheça a classificação da Marinha
o leitor vai ter como baliza as classificações básicas de embarcações ditas miúdas do nosso litoral.
Enquanto as comunidades tradicionais caiçaras , evoluídas a partir de conhecimentos marítimos de navegação ancestrais , muito anteriores aos portugueses e demais influências européias e africanas, criando uma tecnologia única e uma nautidinâmica inconfundível, os Sambaquianos que ocuparam a faixa litorânea de águas internas e manguezais das longas praias e estuários da atual Região dos Lagos e Norte , e principalmente os ambientes lacustres, foram se adaptando a caça-coleta de pescado e esforço ergonômico menos ligado ao mar aberto.
Imagem de fundo: https://museu.ufsc.br/marque-virtual /sambaquis/acervo-4-dente-de-tubarao/ |
🌐2-Um lapso geográfico
O barco de boca aberta, que alguns chamam do termo antigo de caíque ou caíco, típico e predominante no litoral Norte fluminense , é na verdade uma evolução mais barata (folhas de prancha naval de madeirite) , dos antigos escaleres de pesca e transporte de cais, dos navios e também um hídrido com as antigas baleeiras.
Porém, havia, pelo menos até os anos 1980/90, a fabricação de canoas artesanais de um tronco só, mas mesmo essas, não eram as *ubás* caiçaras, com o desenho das que se fazem entre a comunidade de Tubiacanga (Ilha do Governador) e o Paraná, mas muito próximas das que são cavocadas em Santa Catarina.
Isso implica em dizer que a região característica dos caiçaras está no meio de uma canoa chamada bordada , maior e mais pesada, de origem principalmente em Araruama-RJ. Porém, essas canoas de um tronco, hoje raras naquela parte do Rio, provavelmente tem a mesmo nascimento que as catarinenses: as Ilhas dos Açores, Portugal.
🌐3- A boca aberta ou escaler
Alguns estudos universitários em Conheça a teoria do barateamento das fábricas apontam a possibilidade da maior parte das embarcações de pesca de mar interior que hoje predominam entre Maricá e Campos dos Goytacazes seriam apenas uma interferência comercial de poucas décadas para baratear a função dos armadores (construtores) e pescadores.
Mas não é.
A barco de boca aberta (que a Marinha do Brasil denomina escaler), é na verdade um híbrido evolucionário entre a baleeiras do século XVIII/XIX e o escaler dos anos 1910/30. Essa é nossa teoria iphariana pelas entrevistas que fizemos, observação in loco e ainda engenharia comparativa (utilitária e não de eficácia).
🌐4- A ubá caiçara e os antigos argonautas
A opinião não é somente do grande navegador brasileiro Amyr Klink, que a canoa nativa do Rio até Santa Catarina tem uma mecânica naval aprimorada e única, mas também estudos acadêmicos ( clique aqui e conheça os exímios ancestrais navegadores dos atuais caiçaras ), estão apontando que o pré-cerâmicos que habitavam essa mesma área litorânea, detinham conhecimentos de navegação, pesca e calibravam seu cotidiano intimamente com o mar, inclusive nos ritos funerários, de socialização etc.
A despeito da falta de indícios arqueológicos físicos, da presença da canoa, diferentemente de outros biomas (veja Unicamp, conheça e também em Clique e veja talvez a mais antiga canoa do Brasil e ainda em clique e conheça o mais fantástico sepultamento em canoa da história recente das Américas ) muito mais pela pouca pesquisa do que pela ausência dos artefatos...temos no entanto variedade de evidências pelas oficinas líticas em dezenas de sítios arqueológicos da Baía da Ilha Grande e ainda pela própria técnica de construção , ainda perene entre os poucos mestres canoeiros vivos, que realmente tem antiguidade , tanto a tecnologia quanto as práticas de navegar.
🌐5- O comparativo
Nosso comparativo tem como base a reprodução em miniatura fiel, do design fundamental de dois espécimes feitos por artesãos das respectivas cultura de pesca nortista (Y) e da cultura caiçara (X), ambas no Sudeste brasileiro.
Uma , é um típico transporte em escala de semi modelismo (miniatura) feito pelo artista Teco Fieza, coletado em 01/23, na Praia do Canto , em Armação de Búzios-RJ e a outra peça, foi adquirida nas ruas de Paraty-RJ, em 2017/18 e fabricada pelo nativo Idembergue Tenório.
⛵5.1-A linha do toso , a figura A , número 1.
Percebe-se nítida diferença na curvatura do beiral/bordo (1) com acentuação maior na canoa caiçara.
⛵5.2-Linha Mestra , figura B , número 2
A linha mestra , na figura B, identificada pelo número 2, que é a linha de fundo submarina, na canoa nortista é plana, mais bojuda (larga) ao centro, típica de navegante de águas protegidas ou portuárias, com madeiramento maior, sendo na caiçara, mais esguia, o que dá mais velocidade e corte de ondas.
Há inexistência do elemento dito cruzeta, na nortista.
⛵5.3- covernos ou "cavernas" , figura C, número 3
A caiçara não tem a estrutura basal das "cavernas"(3) no fundo, obviamente porque não é montada e sim cavada num tronco único.
🌐 6-Conclusão
Essa falta de caibros de fundo na caiçara, aliada a um espelho de popa mais alto na nortista e ainda a linha mestra da base bem mais pontiaguda da caiçara (na nortista é plana), talvez sejam as três mais marcantes diferenças nas técnicas construtivas artesanais.
Carlos Eduardo da Silva
Prof.Lic.
Angra, 26 de janeiro de 2023