sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

DIFERENÇAS ENTRE A CANOA CAIÇARA E O BARCO DE BOCA ABERTA OU ESCALER, FLUMINENSES.

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No Estado do Rio, existem diversos povos e suas tecnologias típicas, que se desenvolveram conforme o ambiente natural e cultural.


 🌐1- Intróito histórico

Aqui, abordaremos a canoa caiçara e seu território antropológico e o barco de boca aberta ou escaler, do Norte fluminense.

No endereço eletrônico oficial da Marinha,

Clique e conheça a classificação da Marinha

o leitor vai ter como baliza as classificações básicas de embarcações ditas  miúdas do nosso litoral.

Enquanto as comunidades tradicionais caiçaras , evoluídas a partir de conhecimentos marítimos de navegação ancestrais , muito anteriores aos portugueses e demais influências européias e africanas, criando uma tecnologia única e uma nautidinâmica inconfundível, os Sambaquianos que ocuparam a faixa litorânea de águas internas e manguezais das longas praias e estuários da atual Região dos Lagos e Norte , e principalmente os ambientes lacustres, foram se adaptando a caça-coleta de pescado e esforço ergonômico menos ligado ao mar aberto.

Imagem de fundo: 
https://museu.ufsc.br/marque-virtual
/sambaquis/acervo-4-dente-de-tubarao/


 🌐2-Um lapso geográfico 

O barco de boca aberta, que alguns chamam do termo antigo  de caíque ou caíco, típico e predominante no litoral Norte fluminense , é na verdade uma evolução mais barata (folhas de prancha naval de madeirite) , dos antigos escaleres de pesca e transporte de cais, dos navios e também um hídrido com as antigas baleeiras.

Porém, havia, pelo menos até os anos 1980/90, a fabricação de canoas artesanais de um tronco só, mas mesmo essas, não eram as  *ubás* caiçaras, com o desenho das que se fazem entre a comunidade de Tubiacanga (Ilha do Governador) e o Paraná, mas muito próximas das que são cavocadas em Santa Catarina.

Isso implica em dizer que a região característica dos caiçaras está no meio de uma canoa chamada bordada , maior e mais pesada, de origem principalmente em Araruama-RJ. Porém, essas canoas de um tronco, hoje raras naquela parte do Rio, provavelmente tem a mesmo nascimento que as catarinenses: as Ilhas dos Açores, Portugal.


 🌐3- A boca aberta ou escaler

Alguns estudos universitários em Conheça a teoria do barateamento das fábricas   apontam a possibilidade da maior parte das embarcações de pesca de mar interior que hoje predominam entre Maricá e Campos dos Goytacazes seriam apenas uma interferência comercial de poucas décadas para baratear a função dos armadores (construtores) e pescadores.

Mas não é.

A barco de boca aberta (que a Marinha do Brasil denomina escaler), é na verdade um híbrido evolucionário entre a baleeiras do século XVIII/XIX e o escaler dos anos 1910/30. Essa é nossa teoria iphariana pelas entrevistas que fizemos, observação in loco e ainda engenharia comparativa (utilitária e não de eficácia).


 🌐4- A ubá caiçara e os antigos argonautas

A opinião não é somente do grande navegador brasileiro Amyr Klink, que a canoa nativa do Rio até Santa Catarina tem uma mecânica naval aprimorada e única, mas também estudos acadêmicos ( clique aqui e conheça os exímios ancestrais navegadores dos atuais caiçaras ), estão apontando que o pré-cerâmicos que habitavam essa mesma área litorânea, detinham conhecimentos de navegação, pesca e calibravam seu cotidiano intimamente com o mar, inclusive nos ritos funerários, de socialização etc.

A despeito da falta de  indícios arqueológicos físicos, da presença da canoa, diferentemente de outros biomas (veja Unicamp, conheça e também em Clique e veja talvez a mais antiga canoa do Brasil e ainda em clique e conheça o mais fantástico sepultamento em canoa da história recente das Américas ) muito mais pela pouca pesquisa do que pela ausência dos artefatos...temos no entanto variedade de evidências pelas oficinas líticas em dezenas de sítios arqueológicos da Baía da Ilha Grande e ainda pela própria técnica de construção , ainda perene entre os poucos mestres canoeiros vivos, que realmente tem antiguidade , tanto a tecnologia quanto as práticas de navegar.


 🌐5- O comparativo

 Nosso comparativo tem como base a reprodução em miniatura fiel, do design fundamental de dois espécimes feitos por artesãos das respectivas cultura de pesca nortista (Y) e da cultura caiçara (X), ambas no Sudeste brasileiro.

Uma , é um típico transporte em escala de semi modelismo (miniatura) feito pelo artista Teco Fieza, coletado em 01/23, na Praia do Canto , em Armação de Búzios-RJ e a outra peça, foi adquirida nas ruas de Paraty-RJ, em 2017/18 e fabricada pelo nativo Idembergue Tenório.



 ⛵5.1-A linha do toso , a figura A , número 1.

Percebe-se nítida diferença na curvatura do beiral/bordo (1) com acentuação maior na canoa caiçara.


 ⛵5.2-Linha Mestra , figura B , número 2

A linha mestra , na figura B, identificada pelo número 2, que é a linha de fundo submarina, na canoa nortista é plana, mais bojuda (larga) ao centro, típica de navegante de águas protegidas ou portuárias, com madeiramento maior, sendo na caiçara, mais esguia, o que dá mais velocidade e corte de ondas. 

Há inexistência do elemento dito cruzeta, na nortista.


 ⛵5.3- covernos ou "cavernas" , figura C, número 3

A caiçara não tem a estrutura basal das "cavernas"(3) no fundo, obviamente porque não é montada e sim cavada num tronco único.


🌐 6-Conclusão

 Essa falta de caibros de fundo na caiçara, aliada a um espelho de popa mais alto na nortista e ainda a linha mestra da base bem mais  pontiaguda da caiçara (na nortista é plana), talvez sejam as três mais marcantes diferenças nas técnicas construtivas artesanais.

Carlos Eduardo da Silva

Prof.Lic.

Angra, 26 de janeiro de 2023



quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

🎸🥁🪕VIVA SÃO GONÇALO!

Sua pregação era que Deus é alegre e a dança e rodas de viola afastava o mal. É do século XII. Portugal.


💙UM CAUSO DE FAMÍLIA

Um "causo" de família: O Senhor e Sua escolha.

Para ilustrar, vou contar um conto que passa gerações na minha família (aliás, de músicos de Folia , Antônio Telmo de Oliveira, nosso Vô Tonico) . 

O Senhor passando num vilarejo, avistou primeiro um templo religioso, e de fato estavam ali concentrados e fazendo orações e ritos, todos com cara carrancuda...mas Ele ouviu, em Sua onisciência, o pensamento dos presentes, uns desejando a esposa do outro, outros invejando , acolá um pensando em cobrar dívidas, outro praguejando etc...

Depois, seguindo, ouviu uma sanfona, um adufe e bandeirinhas coloridas...era uma festa . Estranhamente, não conseguiu captar as mentes...e percebeu sorrisos, abraços e muita dança... aí Ele não pensou mais, caiu no xiba -cateretê e foi até de madrugada...

Dança de São Gonçalo (MG), uma variante da dança.No caso, típica dos povos caipiras.

Pedro perguntou: 

_"Senhor isso não é escandaloso?"

O Senhor respondeu:

_"Pedro, Pedro, há mais escândalo , às vezes, no pensar no que no fazer .

Não vês a alegria, os gestos de amor fraternal gratuito, a partilha de alimentos e os sorrisos sinceros?"

E ainda disse:

_"Toma uns bebericos, porque vós , daqui há muitos séculos sereis muito festejado...em danças e festejos...relaxa".

Dança do Anu, é um tipo de xiba-caterete, mas não é a dança do São Gonçalo.


💙A HISTÓRIA DO BEATO "SANTO"

Ele ainda é Beato, último estágio para ser canonizado (santo), pelas leis da Igreja Católica, criteriosa.

Protetor das prostitutas :tocava viola e ocupava o tempo delas  pra dançarem até cansar e não tinham tempo de se prostituirem, promovia bailes  de roda de viola e músicas falando de um Deus alegre e feliz.Foi perseguido e mal falado exatamente por atrapalhar a exploração humana.

💙A DANÇA

Os elementos simbólicos são quase invariáveis: dois repentistas como liderança, duas filas de dançarinos e um altar com São Gonçalo, às vezes Nsa. Sra. Aparecida (representando a presença da padroeira nacional e a Igreja) , um Crucifixo (representando a presença de Deus), a Bíblia (representando a Lei), flores e velas(estes, representando a beleza, a natureza e a oração).

Clique aqui e conheça a Dança de São Gonçalo, em Bom Jesus dos Perdões-SP

Clique aqui e veja essa lindíssima variação da dança, em Ouricuri-Pernambuco

Dança de São Gonçalo, Santa Isabel-SP, outra variante caipira.

A verdadeira, mais próxima da dançada no litoral, pelos povos caiçaras (com a volta nas filas e o trotado).

É protetor contra enchentes , tempestades e enxurradas, pois construiu uma ponte em Portugal do seu próprio bolso e doações, para que nenhuma criança ou idoso morresse afogado, e naquela região começaram a haver milagres divinos, por sua intercessão.

É protetor dos violeiros.

Foi talvez o primeiro santo travesti, pois para pregar o Evangelho, e conseguir entrar nos bordéis, se vestia de mulher. A Palavra de Deus só alcança com criatividade!


⚓🦀🛟Um dos santos caiçaras e caipiras mais festejados.

domingo, 8 de janeiro de 2023

NOTA DE REPÚDIO :CONTRA ATAQUES TERRORISTAS AO PATRIMÔNIO CULTURAL DA NAÇÃO

 O Presidente do IPHAR , em nome dos diretores e colaboradores, vem repudiar a destruição dos prédios históricos do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal  Federal, ocorrida na data deste domingo, 08 de janeiro de 2023 , ato criminoso perpetrado por terroristas ligados a uma facção político-miliciana. Nota da academia e universidades


Há vários anos, no recente mandato majoritário federal,  o IPHAN e outros órgãos ligados ao Ministério da Cultura vem sofrendo esvaziamento orçamentário e precarização de cargos administrativos, com substituição de técnicos e acadêmicos, por amadores e afiliados políticos sem conhecimento específico exigentes por lei e por ética. Essa desestrutura causou tragédias como o incêndio do Museu Nacional (Rio, 02 de setembro de 2018), o incêndio na Cinemateca Nacional (São Paulo, julho de 2021, embora a Cinemateca venha sofrendo há décadas) entre outras graves perdas. Clique aqui e veja o caso da Cinemateca e Veja aqui a situação do Museu de Arte Sacra de Angra dos Reis

Além disso, também mais recentemente , a esposa do Presidente eleito em 2022, a Sra. Rosângela Lula da Silva, dita Janja, denunciou na imprensa o estado de abandono do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, inclusive com desaparecimento de obras de arte, conforme clique aqui e veja a situação do Palácio da Alvorada

Porém, na presente data, os ataques terroristas e invasão dos já citados espaços públicos nacionais requerem nosso repúdio máximo e sentimento de ferimento a honra como nação.

Carlos Eduardo da Silva

Presidente do IPHAR.

Angra dos Reis-RJ, 08 de janeiro de 2023.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A LENDA DO DRAGÃO PETRIFICADO PELO PADRE

1- A lenda

Diz a lenda da Mombaça:

No início do século XVI, antes mesmo da colonização, Pe. Anchieta, em passagem pela região, transformou em pedra um dragão que aterrorizava os indígenas, o Anhangá Assu, um monstro terrível, que junto com a deusa do fogo Angra, do panteão tupi, deram a luz ao Anhangá-mirim, esse sim, ainda vive livre, mas não em nossas florestas angrenses e nem paratienses, somente acima das montanhas Amantikir (Mantiqueira), também por causa da benção de proteção do padre jesuíta.

Ao caminhar em missão evangelizadora, pelas praias angrenses, o líder espiritual da Companhia de Jesus se separou com a enorme criatura ...

O monstro pousou na frente dele e com a Bíblia em mãos, exorcisou com as seguintes palavras sacras:

"Draco dormiens, usque
ad novissimum caiçara qui vivit"

Ou seja, "durma dragão, até que o último caiçara viva"!

Assim, até hoje há uma pedra naquela praia com as três garras da frente de uma das patas do dragão.


Já a deusa Angra vive degredada num túnel sob a cidade de mesmo nome, na forma de uma serpente, também aprisionada, túnel este, lacrado solenemente pelos sagrados templos do Convento do Carmo (saída) e pelo Convento São Bernardino (entrada).

Mas...quando o último caiçara de família antiga morrer, o dragão voltará e será solto.

Assim, até hoje, na Praia da Boca, na Mombaça, repousa o dragão petrificado.

"Draco dormiens, usque
ad novissimum caiçara qui vivit
"
!
Com estas imprecações sagradas,
o dragão foi petrificado.

Anhangá mirim, o filho expulso
para as serras da Mantiqueira,
filho do dragão adormecido
Anhangá Assu com a deusa do fogo, Angra.
Imagem: Rodrigo Fressatto

Angra é a deusa tupi do fogo
e da metalurgia, protege a tribo.
É loira e tem olhos verdes ou amendoados,
mas tez bronzeada, aliás,
 como as mulheres mais originais
 e de famílias tradicionais caiçaras.
Imagem:Caco Cardassi


2-A história da última casa caiçara da Mombaça

No final da década de 1960 (69), Elói Fonseca adquire terras de um antigo e ancião caiçara angrense que viveu ali por 99 anos (nome ainda sob investigação histórica). Conta a oralidade, que esse senhor, ao ir viver no centro da cidade, durou poucos meses...de tanta saudade e a quebra do seu ritmo natural...










 ponta, como é conhecida,  que ia desde um pouco mais da praia da Mombaça até a Ponta da Cidade é uma região de grande beleza cênica e mesmo com toda a urbanização e deques/atracadouros sobre a costeira, detém ainda grande diversidade biológica , facilmente avistável, com espécies tais como a tartaruga-verde ou aruanã (Chelonia mydas) , a capivara (Hidrochoerus hidrochaeris) tié-sangue (Ranphocelus bresilius) entre outras faunas.




A arquitetura da casa é típica:janelas de madeira, telhado em 4 águas e telhas do tipo francesas com tesouramento em madeira de lei, além de paredes com embolso rústico de massa .

Mas o dragão está adormecido...