sábado, 15 de abril de 2017

COMITIVA DE ARQUEÓLOGOS E HISTORIADORES FAZ VISITA TÉCNICA EM SÍTIO ARQUEOLÓGICO E EVENTO INÉDITO EM ANGRA: 1° WORKSHOP DE SENSIBILIZAÇÃO PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL

Uma comitiva de acadêmicos  ligada ao IPHARJ e um grupo de angrenses verdadeiramente voluntários e de pesquisa profunda de sítios históricos esquecidos na região, e a outra, uma instituição privada de renome internacional que tem entre seus colaboradores, arqueologos professores de arte, doutores, e na nossa, também temos mateiros, pescadores e caiçaras...esteve nesta segunda (10/04) em visita técnica  e de planejamento, convidados e guiados pelo angrense, bisneto de tropeiros e caiçaras, Prof. Lic. em História  e com latu sensu de Antropologia Forense, Carlos Eduardo.

1- Reunião preparatória
Visitaram o Convento São  Bernardino da Sena, Igreja Matriz  e Santa Luzia, além  de outros locais.



Inclusive veio o arqueólogo  presidente do Instituto, Claudio Prado de Melo.
Se reuniram com representantes  da Secretaria de Serv. Públicos, Cultura e Educação e traçaram  projetos em comum, tudo gratuito e com alto nível acadêmico, para crianças, jovens e professores.


Ficaram extasiados com os monumentos religiosos e saborearam um delicioso almoço  patrocinado pelo próprio Carlos Eduardo e com a colaboração  de mão  de obra ou logística, tudo de amizades longas.

Lavabo artisticamente em pedra lavrada, do Refeitório

Altar-mor do Convento São Bernardino de Sena

Cláudio Prado, Prof.M.


Relógio alemão do século XVIII





Foto acima: após a reunião de apresentação no 1° dia: os representantes da Séc. Educação, Ana Maria, da Cultura, Alonso Oliveira, da Sec. Serv. Público e os arqueologos e historiadores.


2- O Almoço de confraternização

O almoço, teve entrada um caldo de mariscos, acompanhado de  paçoca caiçara,  típico da região, após servida uma moqueca de cavala com banana.
Tudo acompanhado por batuques e pontos  de jongo e violão, tudo com vista para o mar de Angra.


Durante o evento, os comensais ouviram a narração da "lenda de Nossa Senhora da Cavala", quando no século XVII, indo uma nau para Itanhaém, contratada para a cabotagem vinda de Portugal, trazia uma belíssima imagem de Nsa. Sra. da Imaculada Conceição encostou no porto de Angra para reabastecer de alimentos, água e outros mantimentos, foi quando a tempestade estranha e repentina que num dia de sol e céu azul se formava, impediu três vezes a viagem...sendo a determinação do capitão em cumprir o contrato na terceira tentativa, punida com mastros quebrados, marujos rezando e chorando, ondas gigantes...quando chegava na Ponta do Acaiá na Ilha Grande, na barra da Baía.


Quando então o capitão já convencido do poder divino voltava para o porto nessa 3° tentativa, milhões de cavalas (Scomberomorus cavalla), pulavam, brincavam e como que comemorando, faziam verdadeira procissão festiva, acompanhando a embarcação.

Artesanato com a cartilagem da cavala

E realmente, na cabeça do peixe, os caiçaras descobriram , num método próprio de limpeza da cartilagem, uma imagem perfeita de uma Virgem Maria, inclusive  com as mãos unidas em oração e a meia lua sob os pés!


A presidente da Associação de matriz afrobrasileira Yalorixá e o talentoso músico, a arqueóloga Vivian que veio do norte fluminense, a ativista e restauradora angrense, mas radicada em Ouro Preto , Lucimar Muniz, Agnes , Maria Célia, Paulo , Klaine e a equipe do IPHARJ .

Moqueca de cavala

Já no Caminho do Caramujo, estrada imperial do século XIX, feita por escravizados com lajes enormes de pedras lavradas e obras de engenharia como túneis de escoamento pluvial (funcionais até hoje!), mas que estava esquecida e nunca pesquisada, redescoberta por Eduardo após 180 anos...e citada desde o século XVIII até pelos viajantes da Missão Austríaca, trazida pela Imperatriz Leopoldina, a comitiva se surpreendeu com a magnitude daquela contrução, que ia das margens do Rio Jurumirim até a antiga Vila de Santo Antônio do Capivary (atual Lídice). Uma obra monumental , de 4m de largura e obras de engenharia vultosas e com muralhas e terraças que alcançam até 8 m de altura!
Há escoamentos pluviais funcionais até hoje, como túneis e escoadouros de pedra lavrada.



Piso feito pelos escravizados

Uma estrada monumental de 4m de largura 


Agradeço a todos os parceiros como Klaine Meira e Paulo da Pau e Pedra e ás Secretárias de Educação, Serviço Público e Cultura, pelo apoio estrutural para a montagem do evento no Convento São Bernardino de Sena (exposição, palestras e oficina de Arqueologia).



Reconstituição : perspectiva arqueológica

Terraça de arrimo da Estrada

Curso pré exposição só com professores



Os dois dias  foram de palestras, filmes e oficina para mais de 600 alunos da rede educacional pública, mais de 50 professores tiveram palestra sobre patrimônio cultural,  e público aberto , oficina de Arqueologia (com tanque de areia para simulação de escavação arqueológica com crianças!) e exposição museal de peças históricas.


O historiador  angrense Carlos Eduardo, caiçara de 250 anos das famílias açoreanas Rosa e Ramos, originárias da Ilha Comprida (Bracuhy) e Ilha da Gipóia, tem ligação pessoal e afetiva com este caminho ancestral, pois seu bisavô, Evergisto, "Seu Gito", era dono de tropa de equinos e muares e fazia essa rota desde finais do o século XIX.

Agradecemos em especial a equipe de voluntários convidados por mim, verdadeiros heróis: a historiadora e caiçara Cristina Perfeito e o filho, o professor Phablo Rodrigues, o amigo esportista Fábio Abraão, a caiçara e pesquisadora Joyce Gomes.

A Prefeitura cumpriu, dando apoio meramente estrutural(era o combinado prévio).

Tentamos fazer o melhor, mesmo com família , afazeres domésticos e com recursos próprios. A logística e a divulgação foi toda feita por nós.

A ancestralidade, a memória e nossa riqueza cultural merecem!

As pesquisas avançam.



TESOUROS DE ANGRA

TESOUROS DE ANGRA...♡

-MOLDURA DE PAREDE DE MÁRMORE  ROSA (LIOZ), DA SACRISTIA DO CONVENTO SÃO  BERNARDINO  DE SENA, ESCULPIDA ARTISTICAMENTE , COM DETALHES EM ROCAILLE, VOLUTAS E PIA DE PEDRA.

-Essa peça, ao relento no mínimo  desde o fim do século  XIX, já  apresenta desgaste por chuva ácida  (poluentes da cidade)...Bastava uma pequena cúpula  de acrílico  sobre ela!!

DOADA NO SÉC. XVIII, POR DOM JOSÉ  I, DE PORTUGAL.

Foto:Minha; 10/04/17