segunda-feira, 16 de junho de 2025

EXPEDIÇÃO TÉCNICA ITAPÉ

No dia 07/05/25 fizemos a Estrada  da Pedra/João Ramos.

No Zungu, Angra.


1- A Estrada do João Oliveira, do Ramos ou da Pedra

 1.1_O nome

Itaipé, significa no léxico Tupi:

Ita:pedra

Ipé:caminho

Subindo as escarpas da Mata Atlântica, na zona rural da região do Zungu/Serra Dagua. A despeito da absurda destruição de grandes trechos da estrada histórica do século XIX,  feita pela Prefeitura com cimento por cima do piso feito pelos escravizados...essa obra de engenharia heróica ainda se mostra em outras janelas arqueológicas, ou seja, outros locais. 









João Oliveira era um fazendeiro e agiota da região no século XIX e investiu na manutenção de grande trecho. Já a estrada também se chama Ramos, pois aquela serra era a "do Ramos", um afilhado do fazendeiro José de Souza Breves e provável ancestral da minha família.



2- As dificuldades: situação é de estado selvagem.

 A equipe subiu a montanha e em várias partes o caminho está interrompido, principalmente por vegetação de bambu e arranha-gato, causando dificuldades e arranhões. Em outros, há sulcos profundos causados pela lixiviação das enxurradas. 

No entanto, o traçado do zig-zag original da estrada ainda está visível e demonstrando , mesmo com raízes, desmoronamentos e mudança climática, uma resiliência arquitetural.



3-Resultados de coleta em campo

Ali visualizamos o piso antigo, também registramos os muros de arrimo com mais de 4 metros de altura, em pedra seca e muretas de proteção ao trânsito de carruagens e tropas de muares e equinos de carga, com 0,80-0,90 m de largura.Cerca de 1m de altura do arruamento até o topo da mureta. A parte do piso tem entre 3,85-4m.

A partir do quadrante printando abaixo do Google Maps, próximo a Cachoeira da Fumaça /Neblina, começa o zig-zag, todo em terraças artificiais , denotando grandiosidade, energia e vultosa soma financeira gastas .








Muro tipo "canjica do" em pedra dita seca


Embora seja uma mata secundária, com poucos espécimes arbóreos mais pujantes, e quase nenhuma fauna...mas a imersão no ar puro, no som de águas e vistas da Baía do Jurumirim compensam.

3.1- Caracterização construtiva

Conseguimos fazer as medições e o registro historiográfico e identificamos a formatação do tipo moldura no trecho estudado, permanecendo a mesma técnica que fora usada nas partes baixas, estudadas em outras expedições conforme o link acessível abaixo (ao final do item 5) e o desenho é assim:


Também percebemos instalações (até hoje funcionais!), de drenagem pluvial e de nascentes ao mesmo estilo da Expedição Bana-yn:

Veja aqui a Expedição Bana-yn2





4- Equipe 

Parabéns a equipe e ao amigo Ivan Neves, que deu literalmente seu sangue e foi fundamental na abertura de vegetação  alguns locais!

Assim, a floresta...traz saúde mental e oxigenam o corpo e nos dados científicos da análise construtiva vão se juntando a outros estudos anteriores sobre a engenharia macro e a estilística da moldagem do piso.

Clique aqui e conheça as Expedições já realizadas na região:


5-Epílogo

A nossa infiltração na Mata Ombrofila Densa e nas cercanias daquele conjunto arquitetônico sepulto sob a copa das árvores foi muito produtiva. Estamos refazendo todo o percurso desde a Foz do Rio Jurumirim até a Serra do Turvo.

Em breve estaremos fazendo a interligação final, nessa grande empreitada inédita de revisão e diagnóstico das Estradas históricas e caminhos ancestrais.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

EXPEDIÇÃO TÉCNICA N'BOY:IPHAR ORGANIZA MISSÃO CIENTÍFICA COM ARQUEÓLOGOS, HISTORIADORES E TÉCNICOS

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1- O nome da Expedição

M'Boi (y) vem do léxico tupi-guarani para a denominação genérica das cobras. Conta-,se que, pela sinuosidade do litoral daquela Ilha Gipóia, a 2° maior do arquipélago angrense, os indígenas a comparavam com uma gibóia (Boa constrictor).

2- Início e preparação

Em 2017 nós estivemos em diversos pontos geográficos da Ilha da Gipóia, onde por expertise técnica poderíamos identificar sítios arqueológicos. Todos inéditos e sem registro.









O IPHAR, na sua atuacão de resgate e valorização do patrimônio cultural e da autoestima das Comunidades Tradicionais, mormente a caiçara, reafirmando seus valores internos e aplicando o conhecimento científico , convidou e começou as conversações, uniu diversas forças para a busca, catálogo  e confirmação de sítios arqueológicos na Baia da Ilha Grande , em locais inéditos: instituições como o NuPAI/UERJ, capitaneado pelo Prof.Dr. Anderson  Marques , a geóloga e arqueóloga  Michelle Mayumi Tizucaa Historiadora Lourdes Silveira  (ligada a Sankonfa /CNPq UERJ/IPN), o pesquisador e ativista cultural Valnei e o apoio logístico dos membros do INEA, Paulo (APATAM) e Eduardo (PEIG),  Guardas-parques,  se uniram numa missão arqueológica.

Além de diversos sítios  de oficinas líticas-amolares, discussões acerca de datação e tradições incidentes, a missão arqueo-histórica descobriu uma série de locações  arqueológicas ,evidências materiais e até uma descoberta inédita na arqueologia do litoral.















3- A organização 

Alinhavados os parceiros , o IPHAR então , já com as características mapeadas do relevo da Gipóia e também do continente próximo , junto a equipe do NuPAI, traçou pontos de possíveis acúmulos tanto de aldeamentos Sambaquianos quanto de presença de amolares/oficinas líticas.

O mapa, mantido sob sigilo, está ainda sendo ampliado conforme o trabalho de campo avança e a análise das evidências materiais e pesquisa antropológica.

Também traçamos a rota da embarcação da grande parceria oferecida pela Gestora Joanna Martins (APATAM-Área de Proteção Ambiental de Tamoios ) e a Gestora Fernanda Pedroza (PEIG-Parque Estadual da Ilha Grande).


4- A Expedição M'Boi

A região da Baía da Ilha Grande foi local de grande produção e dispersão d de utensílios líticos das Américas. Os  milhares de registros de amoladores-polidores mormente na Ilha Grande (Ipaum Guassu) atestam a aurora de  uma civilização que detinha certas técnicas e ritos ( Tenório, M. C. (2006). Os amoladores-polidores fixos. Revista De Arqueologia16(1).) Pesquisas de osteoses demonstram a possibilidade de terem sido argonautas ancestrais . 



Foram observadas frequências excepcionalmente altas de espondilólises (71,4%) e de nódulos de Schmorl (50%) para a série Ilhote do Leste. Estes valores estão muito acima daqueles observados em outras séries pré-coloniais em várias partes do mundo, cuja frequência varia entre 4,5% e 29,6% para o primeiro marcador e entre 15,6% e 27,4% para o segundo (Carvalho & Lessa, ol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. 10 (2) • Ago 2015 ).

Assim partiu a missão!

Primeiramente visitamos costeiras e matacões próximos ao desembarque . Ali conseguimos observar pequena peça solta de rocha, com duas marcações de amolar. Após , vasculhamos outros costões e pequenas praias e partimos por trilha para o nosso destino principal , uma praia muito conhecida no setor turístico pela beleza cênica .



5- Resultados

O arqueólogo , prof. Anderson foi até o espécime identificado por nós em anos anteriores, um matacão de gnaisse com encrustrações de pigmatito. Ali encontramos rica coletânea de ações antrópicas incluindo marcas tipo "canoa" e outras tipo afiar.

Porém, um membro da equipe,no guarda-parque Eduardo (PEIG) observou um matacão na proximidade e realmente foi um achado: um sítio arqueológico com matacão em rocha granítica, a beira do quebra-mar. Ali havia diversas marcas provavelmente pré tupis mas certamente pré-coloniais.

Naquela mesma longitude, no decorrer da área dos rochedos em ambos os lados da praia, foram coletadas e identificados dezenas  de conjuntos arqueológicos e um elemento especial de marcador mais parecido  com um registro rupestre (em estudo).




6- A Expedição avança no continente.

Também com visita prévia feita pelo IPHAR, o grupo se dirigiu por terra, após desembarque no Cais de Santa Luzia, Centro, para a região do bairro Retiro e Estrada do Contorno. 

Ali, além do conjunto arquitetônico da Igreja de Nsa. Sra. da Imaculada Conceição dos Remédios da Ribeira, do século XVIII, onde houve grande presença antrópica no período barroco e  dos povos tradicionais , os caiçaras, também possui evidências de presença humana em análise prévia do Neolítico, do Cenozóico (em estudo).





















A localidade é um grande conjunto de sítios de estudo histórico e de manancial arqueológico. Com um cemitério ancestral do período colonial , tem ainda um a belíssima mas minúscula igreja católica com todos os elementos de estilística das grandes catedrais da época: torre sineira em trio, talha de altar elaborada (joanino) e ainda púlpito lateral . Além de arco -cruzeiro separando a assembleia (nave) do presbitério (capela-mor).

Assim , catalogamos também  o sítio Ribeira.



7- Epílogo

A compilacão dos dados coletados, a construcão de modelos 3D, o debate interdisciplinar a respeito das marcas de procedência provavelmente rupestre e a logística das próximas incursões, está gerando grande volume de informações .

A abertura de um vórtice de possibilidades inéditas e grandiosas foi feita e a Baia da Ilha Grande está se confirmando como grande manancial de estudos para atestar a proeminência dos grandes navegadores proto -caiçaras.