1- Início e preparação.
A odisséia de singlar as escarpas íngremes da Mata Atlântica e passar por horas no cume da rede de montanhas do Sinfrônio exigiu um mês de preparativos . Incluindo uma reunião prévia na casa do morador Luiz do Pastel, com alguns nativos experientes, para um debate da situação atualizada do percurso.
Assim, o mateiro experiente e guia local, Vagner, que inclusive mora ao lado da Estrada histórica, ficou prontificado a ajudar.
![]() |
Nosso guia, Vagner. |
Percorrendo cerca de 26 km entre o bairro Belém (Angra dos Reis-RJ) e Lídice (Rio Claro-RJ) em meio a floresta ombrófila densa e matas de altitude(já no Sertão do Sinfrônio ). Trata-se de antiquissima rota entre Angra e Lídice.
🛖Desde a época dos indígenas (séc.XVI) , depois dos escravizados (séc.XVII-XIX) e dos tropeiros e carvoeiros (séc.XX).
1.1-Introdução: origem e nomenclatura da Expedição
🥾O nome Sinfrônio tem origem grega, derivado de "Synphrónios" (Συμφρόνιος).
O significado mais aceito é " aquele que pensa em conjunto". O nome está relacionado à ideia de alguém que busca a harmonia e o entendimento mútuo.
É costume do IPHAR dar nomes indígenas as Expedições. Assim, Sinfrônio virou seu homônimo no léxico Tupi: ARUNDÚ, que quer dizer "pensar junto, mesma opinião". Ou seja, mesmo objetivo.
3- Oralidades e andanças anteriores
Guiados no bairro pelo amigo Júnior, o ponto de encontro foi na margem da BR101 , em frente a loja EletroRio. Dali passamos em frente a antiga igreja católica, hoje abandonada e sendo do século XIX , ali fiz uma pequena explanação sobre sua história. Na entrada da estrada histórica o guia nativo Vagner já estava a nossa espera. Após a estrada férrea, começa o chamado Caminho do Sinfrônio, que na verdade até certo ponto, ainda percorre um trecho da estrada de pedra antiga. Após, tem uma bifurcação, que , subindo, já de fato inicia o Caminho do Sinfrônio , picada milenar pré-cabralina percorrida por indígenas Tamoios em comunicação com o Vale do Rio Parahyba, com outras etnias, como os Puris.
Um dos narradores aventureiros que percorreram a região , foi Anthony Knivet, um inglês que foi escravizado pela família De Sá e que fugindo, passou pela região de Angra dos Reis e Ilha Grande, subindo as florestas até o Vale do Parahyba algumas vezes.
A posteriori, já no século XVIII ao XIX , picadas se transformaram em estradas onde contingentes enormes de sofridos escravizados subiam a selva, acorrentados nos ditos conductas dos portugueses e ou libambos, como eram conhecidos na África, após engordarem na Fazenda Japuhyba, pós desembarque na praia em frente, hoje um manguezal.
No meio do século XIX até 1950 aproximadamente , vigorou nessas paragens montanhosas, a cultura cafeeira e depois carvoeira, e as subidas e descidas constantes passaram a ser feitas por tropas , de muares e equinos , com cargas pesadas tanto para exportar pelos portos angrenses , quanto para alimentar a indústria siderúrgica e as ferrovias do Vale do Parahyba.
Recentemente, nos anos 1990 e 2000, poucos se aventuram na rota, como motoqueiros e cavaleiros, se tornando desde então objeto de lendas e desconhecimento real .
3.1- Metodologia: Divisão da rota.
Como forma didática, dividimos o percurso em 3 partes, o de cada trecho tem marcadores antrópicos e geológicos próprios.
O primeiro trecho, começa na igreja católica do século XIX, marco antropológico e social da área, passando pela bifurcação entre a descida para o Vale da Banqueta e o início da Estrada Histórica e subindo ate a ferrovia, passando pela Estação Jussaral e até uma cisterna de pedra.
O segundo trecho segue da cisterna, passa pela bifurcação da Estrada Histórica e sobe região íngreme , passando por longo caminho nos cocurutos da cadeia montanhosa até uma formação geológica alta , triangular, de gnaisse e granituca, denominada localmente por "Pedra Pingadeira".
O terceiro segmento segue após a Pedra Pingadeira e vai até a Cachoeira da Carmem, já descendo o Vale do Sertão do Sinfrônio.
3.2 Início do registro e mapeamento
A mata é basicamente secundária na maior parte do circuito, com poucos espécimes árboreos de grande circunferência, nas cercanias da altimetria 600m, mas já nos topos de morros, atingindo 1200m, já avistamos árvores mais robustas. O trajeto é cansativo, porém a brigado, sendo todo em sombra, e com piso firme, poucos enraizamentos entrelaçados e alguns pequenos córregos e sobressaltos de pedra.
4- A Pedra Pingadeira e o Sertão do Sinfrônio .
A Pingadeira é uma formação geológica com aproximadamente 100m de altura , tratando -se na verdade de um maciço rochoso de tipologia geológica granítica, de onde permanentemente caem esguichos leves de umidade da vegetação , daí o nome Pingadeira.
Dali se percorre vales de pouco declividade com vários ribeirões, até se chegar na área mais descansada e com vários sítios e moradias, onde fica a Cachoeira da Carmem. Aliás, uma região idilica, com resquícios de muros de pedra, uma singela capela cercada de pinheiros e araucárias...formando um conjunto paisagístico único, inclusive quase sempre com a presença de brumas de cerracão.
5- Um marco no montanhismo e a reafirmação de amizade com a comunidade local .
Entrevistei moradores sitiantes e curiosamente os documentos descrevem "estrada velha da Japuiba". Correlacionando com nossa tese pioneira, de que a estrada fora construída especialmente para o fluxo da Fazenda Japuhyba.
![]() |
🟡Década de 1990: ainda havia resquícios de possível cais . 🔴Fazenda Japuhyba: possível fazenda de engorda /leilão. |
E estamos falando de uma trilha inóspita, sertaneja, de mata fechada, com 1209m de altura. Também visitamos rapidamente nossos amigos quilombolas. Além de participarmos da Festa de Peão e encontro de cavaleiros no Rio das Pedras, na Cachoeira do Bastião Marinho.
💚Essa trilha nunca tinha sido mapeada!
É um novo circuito !
O IPHAR, com importante participação do grupo Trilhos e Trilhas, abriu um marco na história do montanhismo da Costa Verde e do Estado do RJ!
As pesquisas de campo continuam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!