DESCOBERTA!
Nosso instituto está empreendendo pesquisas numa jazida arqueológica em Angra dos Reis. Fazendo parte tanto de uma região de engenho e cafeicultura nos séc. XVIII / XIX , quanto rota de importação/exportação de diversas manufaturas desde o século XVI.
Esses são resultados preliminares.
🏛📚ARTIGO📚🏛
TESOUROS EM CACOS
1- INTRODUÇÃO
Sei que é um assunto ignorado pelos brasileiros em geral. Mas os atuantes nos assuntos arqueológicos, historiográficos, etc sabem que - sem cair na autovalorização factóidica - ainda se pode entender os processos produtivos e seus materiais químicos, as relações sociais e econômicas de uma civilização local, com base nas análises da manufatura do objeto estudado.
Diante de um lítico préhistórico, de uma porcelana craqueada e outros longínquos indícios esparsados de um modus vivendi, os pesquisadores conseguem datar o período em que a peça era usada, a forma dentro do cotidiano que servia e rastrear o local de fabricação.
2-INSTITUIÇÃO ENTRA EM AÇÃO
O IPHAR, como Instituto de pesquisa arqueológica e histórica, recebe de populares espontaneidade em diversos materiais antigos. Sem incentivar a retirada e fazendo um trabalho de conscientização com viés científico- educativo, não podemos condenar essa "curiosidade" popular e também é totalmente indiferente deixar a peça sem coleta, desses testemunhos nas praias, pois Angra dos Reis é região muito antiga, tendo desde sítios arqueológicos do Período Neolítico , era das grandes navegações do século XVI e o ciclo da cana e do café.
Nossas ações vão muito além da recolha, pois tais jazidas naturais sofrem com vandalismos e destruição pelo turismo superexplorado do dito day use e portanto, não se pode falar em "manter o sujeito arqueológico no cenário original", o que seria uma inocência por parte dos pesquisadores da nossa instituição. Retira-lo, catalogar e estudar o caco, a parte, pode trazer a tona e à vida personagens, histórias e relações humanas esquecidas nas profundezas do mar. É resguardar o patrimônio.
3-SABEDORIA CAIÇARA
Assim, nós caiçaras sabemos que sempre após as ressacas ou "marões" , a areia é revirada pelas marés fortes e chega naturalmente nas praias os cacos de fainças, porcelanas e às vezes(mais raramente), até cerâmicas Tupinambás , Guayanases e outros povos.
4- RIOS RETROALIMENTAM AS JAZIDAS
Importa ressaltar que muitas desses fragmentos de argila, vitrificados, porosos ou não e stoneaware, são provenientes das enxurradas dos grandes rios que desaguam na Baía da Ilha Grande, nas desembocaduras dos caudalisos Jurumirim, Japuhyba, Mambucaba e Caputera, regiões hidrográficas que tiveram grande movimentação de tropeiros, portos de pedra /trapiches e de exportação, pousos, trocas comerciais, engenhos de cachaça e estradas coloniais que singlavam as escarpas tropicais da Mata Atlântica desde o ciclo aurífero , das gemas preciosas e com auge nas monocultura do Coffea arabica.
Carlos Eduardo Caiçara
Presidente do IPHAR
Angra dos Reis, 09 de abril de 2018
Imagem:fotografia de uma fainça , com chinesice; provavelmente final do século XVIII e meados do séc. XIX. Acervo do IPHAR.
show que legalllll
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