terça-feira, 8 de março de 2022

EXPEDIÇÃO TÉCNICA GAMBOA: DESCOBERTA INÉDITA! ESCRAVIDÃO, FERRO E ÁGUA

 

1-O objetivo

A Expedição Gamboa está dentro do planejamento de 2022; sendo parte do trabalho de campo para coleta de dados com objetivo de alimentar nossos Estudos internos e gerar conhecimento inédito publicável em paper, que é um dos nossos focos.

Logomarca da Expedição, com o dístico temático:
 escraviďão,  ferro e água.





Contato interpessoal com os
amigos informantes é fundamental.


Serras dos sertões de Angra:
maravilhosas cachoeiras.

Casa de construção tradicional de pau-a-pique


Marcas do tropeirismo:
uru ou balaio de cipópeva ou imbé

2-A origem e os preparativos da Expedição

Nossas pesquisas prévias de documentos antigos e matéria arqueo-historiográfica , apontavam uma variante do  Caminho do Caramujo, que é outra descoberta totalmente pioneira nossa, que servisse de interfluxo com o Vale da Japuhyba; a Fazenda Japuhyba segundo algumas fontes, é de 1650.

Clique aqui e conheça o Caminho do Caramujo: descoberta inédita nossa!

 Porém a própria materialidade dessa estrada histórica era incerta: imersa em lendas, causos e relatos esparsos. Mas somos exploradores por excelência!

Seria a Faz. Japuhyba na verdade a
 Faz. Campinho citada por E.Pohl?

Faz.Japuhyba: entreposto do tráfico de escravos?

Fiz os contatos nativos necessários, onde fui acolhido de pronto por algumas lideranças que conhecem minha família e tem as direções práticas e tradicionais de rota, via afetividade  geoespacial natural. Os preparativos como sempre, são feitos com a convocação de membros do IPHAR e colaboradores ativos.

*Iohann Baptist Emanuel Pohl,  

 Pohl* , austríaco que inicialmente fez parte da Missão Austríaca trazida pela Imperatriz Leopoldina, para a seção de mineralogia, rompeu com o projeto e que empreendeu sua própria caravana por alguns sertões, vem vislumbrar-nos com a seguinte descrição:

"(...) chegamos a praia, já com o luar, subimos a uma eminência; às onze horas da noite demos com uma cabana, chamada Gamboa, numa íngreme ladeira sobre o mar. A região chamava-se Saco."

.
Pelas características narradas, um desses três promontórios (azul, vermelho e amarelo) podem ser a localização da cabana.

Igreja do Bom Jesus, de 1879.
Abandonada com tanta história...

Senhor Jesus e São Sebastião: 150 anos de fé

Crescimento urbano sobre áreas rurais


3- A nossa tese

Teorizamos que, por associação toponímica, seja a atual coordenada -22.954048,-44.313941 ,  coordenadas -22.956778,-44.311634 ou o ponto -22.960317,-44.307780, todos promontórios com afloramentos ígneos verticais, que tem as características relatadas pelo viajante citado, com proximidade ao quebramar.



Georreferenciamento e fotografias historiográficas
 e medições do terreno são nossas ações.





Assim, empreendemos marcha a partir do ponto "0" escolhido por nós, no caso, a antiga Igreja do Bom Jesus, hoje abandonada e marco histórico da expansão colonialista, sendo as margens do dito caminho da Banqueta, subimos a ladeira, que dá bela visão do bairro e ao fundo a Praia da Ribeira, seguimos até a bifurcação no topo do morro, onde a direita vai ao Vale da Banqueta e a esquerda, vai até a ferrovia. Cerca de 100m depois, já alcançamos o primeiro trecho de calçamento histórico de pedras semi lavradas .

4- As técnicas arquitetônicas

4.1-Piso

Inicialmente, eu esperava detectar o aspecto de datação regional mais comum: século XIX, com suas capistranas, moldura ou híbrido**.

Clique e conheça o Caminho histórivo do Caramujo. Expedição de 2019.

Nossa metodologia de janelas de amostragem ou Setores (sem limpeza de vegetação ou remoção de solo, ainda que superficial), é coletada em pontos demarcados de 2m² a 4m² ,escolhidos entre aqueles naturalmente expostos suficientemente para análise. Porém, constatamos uma antiguidade maior que outros Caminhos da região!

São lajotas que por sua volumetria, alcançam até 100 Kg!

A posição geral das peças de rochas lavradas do leito carroçável  formam um desenho primitivo e randômico, sem seguir o padrão moldura e sequer um híbrido, se aproximando um pouco da estilística do lageado, mas sem caracterizá-lo totalmente. 

Um fato é claro: foi feito por mão de obra da escravatura e nada tem a ver com os profissionais carvoeiros que atuaram na região na metade do século XX. Reafirmamos que este Caminho data ainda do século XVIII!



Há locais com centenas de peças pequenas em forma de cunha e outros com blocos enormes, mais planos, completando o espaço interno(recheio) da rua inteira.

É diferente e mais simples que qualquer pavimentação já estudada por nós.

4.1/1-Classificação

A cobertura em grande peças chamaremos de semi-lageado e a cobertura de cunhas e pedras pontiaguadas, denominaremos cunhal.


4.2-Bordaduras

Um aspecto extraordinário que percebemos, exprime caráter menos simplório a obra: a presença de bordaduras ,que visavam evitar o desbarrancamento das extremidades finais do arruamento, como uma espécie de eira ou arquitrave utilitária,  com função de arremate protetivo. Inédito!

4.3- Terraças ou Talude de aterro

As estruturas mega são montagens comuns nas estradas imperiais, vencendo contrafortes naturais e penhascos e que demonstram que, os engenheiros  e mestres de obra preferiam um enxerto do que os temíveis cortes (e infelizmente muito comuns no seculo XX).

No trecho não foi usada uma montagem que lembre o clássico do século XIX, cangicado, das edificações em pedra seca. Notamos apenas encaixes aleatórios de pedras lascadas e outras peças graníticas maiores retangulares raras e esparsas postas muito sem desenho.

Os perímetros das terraças estudados não foram medidos por nós a prumo, mas parece ter uns 75° a 90° e escolhemos 2 que mediu 3m x 3m (9m²)  cada um.

Terraça




5- Associação com o capital escravagista

Pela declividade do traçado , que alcança até 1612m em trecho ainda a ser feita prospecção, em contradição ao Caminho do Caramujo, relativamente mais retilíneo e com escarpas inclinadas em menor trecho, podemos supor  muito provavelmente que essa construção era uma estrada mais antiga, menos rebuscada em elementos de drenagem, tipologia de calcetamento mais simples e feita com mais urgência.

Também postulamos que tal Caminho era de serviço de movimentação de contingentes de milhares escravizados a partir do porto da Japuhyba. 

Acredito que um consórcio de fazendeiros teve ação nessa empreitada monumental, pois a grande engenharia , movimento de rochas nas minas e de acerto de massas de terra do terreno exigiu uma grande quantidade de operadores , tanto do serviço bruto/pesado quanto alguns técnicos. Óbvio, para facilitação do comércio.

Na década de 1990 ainda vi parte do que seria o porto,  sendo de pedra e logo depois soterrado pela Prefeitura para o aterro da rua que vai a praia.

A presença de 2 fontes de água no percurso, salvo se surgiram após a devastação dos anos de carvoarias de 1950-1970, também são evidências do uso de tropas e arrasto de escravizados em movimento.

6-Epílogo

O comércio negreiro teve nessas paragens muito mais movimentação do que  as tropas de muares e equinos carregando o nigrum aurum, o café. Temos convicção quase formada, que o desuso desse trecho, seguiu a tendência do vetor de desenvolvimento econômico regional que foi sendo direcionado cada vez mais do Vale da Japuhyba para o sul, em direção as novas passagens pela Serra do Mar, no Vale do Jurumirim, Ariró e Bracuhy, com seus movimentados portos. 

A pesquisa avança!


** Termo criado por nós na Expedição Lauburu

Clique aqui e conheça a Expedição Lauburu





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AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!