1-⚜️ INTRODUÇÃO
O patrimônio cultural de um povo, de uma cidade, vai muito além do que o visível, como prédios históricos ou estátuas de praça. Seus costumes, suas lendas, a gastronomia única e típica , o linguajar e até mesmo a forma de comunicação visual como modos de vestir e andar, firmam um conjunto de beleza e singularidade .
Assim, a história de uma região como Angra dos Reis, que viveu desde o pleistosceno , todas as fases civilizatórias, mormente a pós -cabralina , teremos nuances que se comunicam de todas as sociedades multifacetadas e ciclos econômicos.
2-⚜️ AS MISSÕES RELIGIOSAS E A INFRAESTRUTURA CATEQUÉTICA
Com a chegada do elemento europeu exógeno, abre-se um vórtice de novas adaptações de comunicação e vivência, principalmente no universo simbólico e cosmogônico , mormente e de forma abrupta, nas nações, línguas e organizações intracomunitárias nativas.
Desde o século XVI,o fluxo permanente de contingentes portugueses e espanhóis,grande maioria com intuito visceral e de camadas mais simples, capitaneada por um projeto de capital explorativo, também lançou o expansionismo da fé, principalmente num contexto europeu de miséria, guerras territoriais e Contrarreforma católica.
![]() |
É provável que Jesuítas frequentassem o Convento franciscano de Angra, como passagem. |
As primeiras instituições religiosas que acompanharam os invasores , foram os da Ordem de São Francisco . Logo depois, com a aprovação da bula papal Regimini militantis Ecclesiae, em 1540, vieram os jesuítas, da Companhia de Jesus.
3-⚜️A EXPANSÃO ENTRE OS REINÓIS
Entre a população autóctone, só havia duas opções, a morte, a prostituição e a escravidão forçada pelos materialistas coloniais civis, ou a religiosidade e a nova fé, que com os ritos e cerimônias , de certa forma os protegia através do serviço evangelizador e social.
Nas minas de prata de Potosí, onde milhares morriam de desnutrição , tuberculose, outras doenças e acidentes...e nas minas de ouro da então Minas Gerais, as condições eram as mais horrendas...
Migrações forçadas e a confusão reinava.
Nesse corte temporal, analisemos as exigências de arte e luxo importado de navios e mulas pelas montanhas, para mostrar uma insípida "nobreza" dos comerciantes e fazendeiros e portanto, a necessidade de consumo e a fome mercadológica por imitar a Corte distante...
Nesse ínterim, que surgem artífices indígenas que , com sua expertise em grandes civilizações e arquitetura dos Incas, Moxicas, Aztecas e verdadeiras cidades-estado amazônicas do Brasil (Heckembarger e Eduardo Neves), já tinham conhecimentos elaborados de arquitetura entalhes em pedra e madeira.
A mão de obra estava semi pronta; os conceitos do renascentismo tardio e do barroco foram adaptados pelos padres e mestres de obra.
4-⚜️ DECADÊNCIA MINEIRA: SURGEM OS NÚCLEOS (OFICINAS) .
Os artesãos se uniram em pequenos grupos de autoprotecão social, guardando segredos do ofício como imitacão e costume das antigas guildas medievais, para monopolizarem o comércio de seus afazeres.
A superexploração do minério , do ouro e da prata na América espanhola e portuguesa, causou a devastação ambiental e a escassez de escravos e o uso de trabalhadores assalariados ( basicamente por comida e direito a pequena roça), causou episódios de fome generalizada, como a de Ouro Preto-MG em 1701 (sÆculum- REVISTADE HISTÓRIA [19]; João Pessoa, jul./ dez. 2008).
Pequenas manufaturas de ourivesaria e obras de arte sacra se espalharam. A constante requisição dessa profissão por parte da Igreja Católica e suas Ordens e Irmandades missionárias em expansão e também de civis em fazendas da ascendente indústria do café , acabaram fazendo essas associações de nativos viajarem centenas e milhares de quilômetros, inclusive internacionais.
Aí começa a história do móvel dito "Altar da Portaria do Convento São Bernardino de Sena".
5-⚜️ O ALTAR QUE TODOS VIAM...
A talha da referida obra em madeira esculpida, com detalhes florais , frutíferos e zoomorfos, que dialogam com o movimento nativista, é um protesto mudo contra a moldagem erudita de inspiração clássica européia e asiática, em voga na época.
É provável ser do século XVIII.
Passou por agruras impensáveis: nos anos 2000 esteve no Museu de Arte Sacra , de Angra dos Reis, onde misteriosamente furtaram parte de duas colunas esculpidas do móvel, isso, dentro do museu e sem arrombamento.
Atualmente, está semi abandonado no Convento São Bernardino de Sena.
![]() |
Escamas |
![]() |
Flores tipicas |
![]() |
Frutas amazônicas |
![]() |
Temas florais no lugar de fustes doricos |
Porém, não se sabe se os "oficinero" o construíram em Angra ou foi trazido pronto...
Podemos imaginar o olhar dos viajantes e visitantes daquela casa monacal , abertas as enormes portas da entrada lateral, ver aquelas figuras tropicais e andinas, com o símbolo da Companhia de Jesus...isso tudo num Convento de uma outra instituição religiosa franciscana.
6-⚜️EPÍLOGO
Esse estudo é inédito, embora já tenha base em outros papers sobre peças artísticas de outras paragens, tanto do Peru, Bolívia e do Vale do Parahyba.
Nossas análises da superfície demonstraram que há poucos encaixes, sendo esculpidos em placas de peça única , ou seja, grande habilidade dos obreiros.
Assim, sem finalizar nossa empreitada, é nossa percepção que a história angrense ainda tem um grande manancial de pesquisa , ainda que sob risco iminente da perda desses objetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!