domingo, 25 de setembro de 2022

QUANDO OS ENXÓS ENCANTADOS SE CRUZAM: EVENTO CULTURAL INÉDITO MARCA A VOLTA DOS POVOS CAIÇARAS A ANGRA DOS REIS


1- Magia não é fácil

A 5° edição da Flim- Festa Literária de Mambucaba, que após anos de patrocínio estatal (prefeitura) e editais, teve de se reiventar, com cotiização de alguns moradores e parceiros, sentiu algo de mágico e até sobrenatural em 2022...

Não foram só os temperos e o conhecimento de ervas e peixes do Mestre de Culturas Tradicionais (MinC 2017) Evaldo, que encantou o público na cozinha-show...





Não foram só os casarões antigos e a paisagem do mar...

No ensolarado e azul sábado de 24 de setembro , o fogão dos fundos do casarão do século XIX já prenunciava algo diferente...



2- O feminino que alimenta

Maria Lúcia e Maria Célia (IPHAR), estavam ali preparando aromas e modos de fazer diferentes: bananas verdolengas (Musa acumminata), toucinho,café adocicado (colonial)...


3- Efeito do encanto : união de todos

A Manhã Caiçara, organizada pelo IPHAR-Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica de Angra dos Reis-RJ começou com um convite incomum a toda a comunidade do entorno, por seu Presidente Eduardo, que saiu pela ruas e convidou guardas de trânsito, garis, pescadores, turistas e até membros de seitas religiosas (que normalmente são arredios a cultura caiçara, com forte presença de nuances católicas). Foi um sucesso! 

Um ar de congraçamento. De união. De multireligiosidade, diversidade .







Símbolos de fé: o Coquinho da Festa do Espírito Santo,
 a Santa da Cavala, São Gonçalo e Nsa. Sra. Aparecida
.


Artesanato do Evaldo

Temos e enxós:armas da paz!

Equipe FLIM+IPHAR




Yeda e Lúcia

    Amigo artesão Zé Carlos 

4-Resgate culinário
paçoca caiçara , típica de Angra, parece que teve o milagre da multiplicação, todos ficaram satisfeitos e pareciam provar algo novo, mas que era parte dos sabores diários dos povos originários angrenses por séculos...agora revividos!

A música de cirandas , fandangos e folias que tocava no rádio, completou o clima.




Paçoca caiçara: resgate culinário


5- O registro das dissimilitudes: os encantos e o horrores de dois povos.

Após, o autor Fábio Campos, que escreveu      "Heroísmo dos Reis", num bate papo, descreveu seu trabalho de pesquisa sobre as identidades e diferenças entre as cidades-irmãs (absurdamente ainda sem ser), de Angra dos Reis-RJ e Angra do Heroísmo (Açores, Portugal). 



O mais chocante é que enquanto a cidade portuguesa foi destruída por um terremoto e perdeu  todo seu patrimônio histórico edificado, virando ruínas, por um fenômeno da natureza e 93% reconstruído, Angra dos Reis ainda sofre com atentados de demolição e corrompimento ilegal de prédios e monumentos por causa de quem? Moradores/proprietários.
Um fenômeno social, e não natural. Vergonhoso.
Mas façamos o passo seguinte: e nossa reconstrução, tanto material quanto mental??Quando virá?

Nós, no IPHAR, sempre pioneiro, já estamos atuando fortemente com nosso tijolinho no âmbito da psique coletiva, para essa reconstrução!







6-O caldeirão do mago: o fogo sagrado

Depois, o espetáculo de panelas, perfumes naturais e saberes do pescador e artesão Evaldo Pereira (Evaldo Caiçara),  de São Sebastião -SP, com direito a degustação e apresentação de coentro-maranhão e coentro-espinho (Eryngium foetidum) O público se empolgou!

Simplesmente todos se fartaram no clima e no corpo!









6-O cântico sagrado da reunião

Dali, a dupla campeã de vários festivais Valdo e Valnei, abrilhantaram ainda mais o almoço-musical, com músicas temáticas caiçaras de sua autoria e de Vinícius de Moraes. Claro que não faltou a cachacinha e a cerveja gelada...



7-O encontro dos mestres

Feiras são oportunidades. E ocorreu uma, o caiçara antigo da região, Tito Augusto do Rosário, o Guto, estava admirando a peça de madeira que ia ser cavocada e perguntei se ele era artesão, ele disse:
"Posso ser, se ver , aprendo"
Apresentei ao Evaldo e começaram a conversar. Respeitosamente, deixei os dois falarem dos misteres...
Esses encontros quase anônimos, que só poucos sabem a importância e que naquela agitação vida festa quase ninguém percebeu,  ficam como registro para a posteridade dessa troca de expertises.


8-O ritual dos ancestrais

Mais tarde, após o merecido descanso dessa orgia gastronômica, sensorial e afetiva, o Evaldo  ainda apresentou a inédita oficina de canoa caiçara, que após 100 anos de exclusão étnico-social em Angra dos Reis-RJ, os valores culturais e de reafirmação antropológica do povo angrense original se mostraram!



Para a amostragem da técnica de cavoca, o artesão teve de adentrar vários quilômetros dentro da Mata Atlântica em São Sebastião-SP, para achar uma tora de cedro-rosa (Cedrela fissilus) caído, com quase 50 kg, para nos presentear com essa demonstração de força, inteligência e ancestralidade.








8-Os clãs mágicos estão voltando...

 Nunca no território do município de Angra, houve uma  oficina em público sobre como construir uma canoa  caiçara de um pau só!

É um ato de re-existência . Com sua engenharia única de milênios de experiência, que é a náutica do povo litorâneo.




Nossas ações de marcação territorial nos corpos e nas mentalidades não são de hoje; são 30 anos , com a importante vitória em 2018 , da promulgação da lei municipal que criou a Semana da Cultura Caiçara e a Festa da Sardinha.

A própria busca da banana ideal para a moqueca, conforrme as instruções do chefe-artesão, foi uma prova de esforço para a equipe, desse êxodo caiçara de volta ao lar...tanto êmico quanto real, pois sendo um mercado produtor de massa e dentro do conceito de make-to-stock ou fooding mass, que promove a monocultura da banana, extinguindo espécies regionais, empobrecendo a variabilidade genética e promovendo a inviabilidade econômica  da étnico-agricultura. 

O IPHAR agradece a confiança dos organizadores da FLIM, pedindo desde já reconsideração pelo nosso modo próprio de gestão de equipe, que é metódico, devido a realidade do nosso eixo de atuação no patrimônio material e imaterial , pois atuamos na salvaguarda não só dos acervo físico ou do conhecimento, mas também da proteção do povo caiçara enquanto sujeito pensante e afetividade sagrada.

Carlos Eduardo da Silva Prof.Lic.

Pres.IPHAR

Angra dos Reis-RJ, Mambucaba, 

24 de setembro de 2022



Equipe do IPHAR:Maria do Carmo Firmiano (Secretaria), Marlonea (membro efetivo), Maria Célia Costa (Vice Presidente), Agnes Ethel (Membro efetivo), Valnei Albino (Diretor do DEACQUI), Maria Margarida (convidada). Ilma Chateaubriand (convidada).

Parceiros vindos de forma graciosa:

Evaldo Caiçara e Bruno:Cozinha-show e oficina de canoa caiçara 

Fábio Campos Bitencourt: roda de conversa do livro de sua autoria "Heroísmo dos Reis"

Valdo e Valnei: almoço-musical

José Carlos: artesão náutico de miniaturas(modelismo).

Sr.Portugal, do Mercado do Peixe, centro de Angra(doou parte do pescado).







Nenhum comentário:

Postar um comentário

AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!