domingo, 4 de setembro de 2022

FESTA DA FREGUEZIA DE SANT'ANNA 2022 , NA ILHA GRANDE:MARCO DE RESISTÊNCIA!

 1-A origem da ocupação civilizatória.

A Ilha Grande tem ocupação humana comprovada há mais de 3 mil anos. Resquícios dos povos pré- históricos estão espalhados tanto nós montes de concha funerários e ritualísticos quanto em marcas de pedra de oficinas líticas por dezenas de locais. Também povos indígenas habitaram a Ilha Grande, como os Tupinambás até o século XVII. 

É importante frisar que escolhemos publicar em nossos textos a antiga grafia do nome: Freguezia de Sant'Anna.

Clique aqui e conheça a riqueza arqueológica da Ilha Grande

Clique aqui e conheça a pré -história da Ilha Grande


Muros do cemitério

Porém nosso foco é o período do século XVII ao XIX: pujança da cana-de-açúcar e do café, culturas movidas pelo labor truculento de uso escravizado.

Assim, diante da riqueza, crescimento urbano, também da necessidade de acompanhamento espiritual e cartorial de batismos, casamentos e enterros e obviamente o aporte de simbolismo de poder local,  em 1796 começa a contrução da primitiva capela , já com altar melhorado, requintes arquitetônicos básicos, e seria elevada a Freguesia em 1802.

Moeda do século XVIII

2- A arquitetura atual e a ambientação 

Trata-se de um sítio arqueo - histórico de 600 de testada x 1000 de fundo, m², aproximadamente . A pujança das construções locais datam basicamente do século XIX.




A Igreja de Sant'Anna fica num outeiro, acessada por bela escada de granito encimada em cada ponta do corrimão por uma conversadeira. O adro, como era costume , é repleto de túmulos que datam de metade do século XIX até meados dos anos 1950. Incluindo esculturas como do anjo, de mármore branco e que nos anos 2020 perdeu uma asa (túmulo de Francisca de Paula Martins, 1884-1941).



Foto:Edinho Lima

Foto:Edinho Lima


A Igreja e o espaço externo cemiterial se assenta sobre um terraço de muros de pedra de 50 x 80 m², com dois acessos de escada, uma na frente para o mar da praia e outro , na lateral.


A aproximadamente 50m , do templo, já na Praia Araçá, há o cemitério também de antiguidade acentuada, com portão metálico elaborado e medindo aproximadamente 60 x 60 m², em pedras estilo canjicado.

Muros do cemitério
tem cantaria elaborada.

A igreja possui torre sineira com acabamento de teto abobado em estuque, sendo três vãos com três sinos, incluindo relíquias , como um sino com o brasão imperial, sino de sonoridade no tom grave(Ré). Todos desafinados, sem manutenção dos badalos improvisados e com sinais de oxidação, inclusive um já está com furos .

Escudo imoerial







Abóbada


Sino por dentro com graves deteriorações

Símbolo do Império


No frontão, acima da porta principal, se lê em letras de alto relevo:" 1843", com ramos em volta e uma coroa.

Infelizmente, nos anos 1990, como recorrente na Costa Verde nos últimos 60 anos,  estranhos documentos de propriedade apareceram  com empresários e uma instituição bancária alegando a compra da área, cercaram tudo e inclusive fecharam a trilha original centenária usada pelos caiçaras.

Padres missionários unidos a comunidade católica regional insistiram no Culto Divino (missas) e no embate por décadas , por isso, minimamente o acesso a igreja continua até hoje, embora o traçado da trilha ancestral que ligava um lado ao outro da Ilha esteja interrompido e desviado.

3-O altar-mor  e os altares laterais

O templo tem talha elaborada, com detalhes requintados e conceito formal de arte.

A aplicação escolhida para a época foi do modelo rococó, com características próprias, tais como no altar-mor , o resplendor com o Espírito Santo e no altar lateral esquerdo,  um resplendor tendo coração entrecortado por duas espadas e elementos florais .

Altar lateral

Detalhes do entablamento

Padroeira

Altar-mor


Nave

Altar lateral


Detalhe do altar lateral

Presbitério



Pia batismal


Elemento da colunata

Vista do coro

O douramento foi todo raspado ainda nos anos 1990 e nunca mais foi restaurado, restando a madeira crua.

4-A festa 

Incentivada pela comunidade católica do continente e plenamente apoiada pela Prefeitura, tanto como importância das demonstrações dos marcos culturais e turísticos nesse caso, quanto da resistência antropológica e espiritual dos ritos de passagem , no caso da Igreja e fiéis, a festa da Freguesia de Sant'Anna é uma das mais belas de toda a Costa Verde.


Maria Margarida







Frei Anchieta (branco)




Arte no lavatório
da Sacristia




No passado, acorriam para lá os vilarejos da Ilha Grande (cada um com sua capela e padroeiro) para fazerem o novenário pré-festa, com cânticos e ladainhas , algumas em latim arcaico, tal como o IPHAR registrou em 2022 e analisou, na Festa de Santa Cruz, na Praia de Tarituba(Paraty).

Nada mais simbólico:
a procissão passa,
 mas sob vigilância
e com cercas delimitando
 o território outrora
da comunidade
caiçara tradicional.

Atualmente, se celebra majestosamente a missa no dia da padroeira e depois a procissão percorre um circuito alternativo e sob a permissão de vigilantes privados da propriedade particular.

5- Epílogo

Local de grandes movimentos econômicos e de interfaces genealógicas e esplendor arquitetônico de importância nacional, a região entre as praias de Sant'Anna e Araçá e entre as comunidades caiçaras de Matariz, Bananal e Japariz, nas redondezas, sempre foram repletas de manifestações típicas, como as Folias de Reis, as rezas comunitárias, as cirandas dançantes, a viola caiçara (única no mundo), vide:Clique aqui e conheça a viola Angrense) e tantas outras atividades ligadas ao seu rico repertório de sobrevivência interligando as técnicas de cultivo agrário e de pesca do duro cotidiano, ao simbólico e mítico.



Neste 2022 o antigo fervor e beleza se repetiu, com centenas de fiéis e turistas participando da Missa e depois da procissão e o almoço; suas preces e olhares refletidos nas águas do mar e o repicar das vozes dos sinos bicentenários clamam por dias melhores...










Nenhum comentário:

Postar um comentário

AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!