Uma comitiva de acadêmicos ligada ao IPHARJ e um grupo de angrenses verdadeiramente voluntários e de pesquisa profunda de sítios históricos esquecidos na região, e a outra, uma instituição privada de renome internacional que tem entre seus colaboradores, arqueologos professores de arte, doutores, e na nossa, também temos mateiros, pescadores e caiçaras...esteve nesta segunda (10/04) em visita técnica e de planejamento, convidados e guiados pelo angrense, bisneto de tropeiros e caiçaras, Prof. Lic. em História e com latu sensu de Antropologia Forense, Carlos Eduardo.
1- Reunião preparatória
Visitaram o Convento São Bernardino da Sena, Igreja Matriz e Santa Luzia, além de outros locais.
Inclusive veio o arqueólogo presidente do Instituto, Claudio Prado de Melo.
Se reuniram com representantes da Secretaria de Serv. Públicos, Cultura e Educação e traçaram projetos em comum, tudo gratuito e com alto nível acadêmico, para crianças, jovens e professores.
Ficaram extasiados com os monumentos religiosos e saborearam um delicioso almoço patrocinado pelo próprio Carlos Eduardo e com a colaboração de mão de obra ou logística, tudo de amizades longas.
Lavabo artisticamente em pedra lavrada, do Refeitório |
Altar-mor do Convento São Bernardino de Sena |
Cláudio Prado, Prof.M. |
Relógio alemão do século XVIII |
Foto acima: após a reunião de apresentação no 1° dia: os representantes da Séc. Educação, Ana Maria, da Cultura, Alonso Oliveira, da Sec. Serv. Público e os arqueologos e historiadores. 2- O Almoço de confraternização |
O almoço, teve entrada um caldo de mariscos, acompanhado de paçoca caiçara, típico da região, após servida uma moqueca de cavala com banana.
Tudo acompanhado por batuques e pontos de jongo e violão, tudo com vista para o mar de Angra.
Durante o evento, os comensais ouviram a narração da "lenda de Nossa Senhora da Cavala", quando no século XVII, indo uma nau para Itanhaém, contratada para a cabotagem vinda de Portugal, trazia uma belíssima imagem de Nsa. Sra. da Imaculada Conceição encostou no porto de Angra para reabastecer de alimentos, água e outros mantimentos, foi quando a tempestade estranha e repentina que num dia de sol e céu azul se formava, impediu três vezes a viagem...sendo a determinação do capitão em cumprir o contrato na terceira tentativa, punida com mastros quebrados, marujos rezando e chorando, ondas gigantes...quando chegava na Ponta do Acaiá na Ilha Grande, na barra da Baía.
Quando então o capitão já convencido do poder divino voltava para o porto nessa 3° tentativa, milhões de cavalas (Scomberomorus cavalla), pulavam, brincavam e como que comemorando, faziam verdadeira procissão festiva, acompanhando a embarcação.
Artesanato com a cartilagem da cavala |
E realmente, na cabeça do peixe, os caiçaras descobriram , num método próprio de limpeza da cartilagem, uma imagem perfeita de uma Virgem Maria, inclusive com as mãos unidas em oração e a meia lua sob os pés!
A presidente da Associação de matriz afrobrasileira Yalorixá e o talentoso músico, a arqueóloga Vivian que veio do norte fluminense, a ativista e restauradora angrense, mas radicada em Ouro Preto , Lucimar Muniz, Agnes , Maria Célia, Paulo , Klaine e a equipe do IPHARJ .
Moqueca de cavala |
Já no Caminho do Caramujo, estrada imperial do século XIX, feita por escravizados com lajes enormes de pedras lavradas e obras de engenharia como túneis de escoamento pluvial (funcionais até hoje!), mas que estava esquecida e nunca pesquisada, redescoberta por Eduardo após 180 anos...e citada desde o século XVIII até pelos viajantes da Missão Austríaca, trazida pela Imperatriz Leopoldina, a comitiva se surpreendeu com a magnitude daquela contrução, que ia das margens do Rio Jurumirim até a antiga Vila de Santo Antônio do Capivary (atual Lídice). Uma obra monumental , de 4m de largura e obras de engenharia vultosas e com muralhas e terraças que alcançam até 8 m de altura!
Há escoamentos pluviais funcionais até hoje, como túneis e escoadouros de pedra lavrada.
Piso feito pelos escravizados |
Uma estrada monumental de 4m de largura |
Agradeço a todos os parceiros como Klaine Meira e Paulo da Pau e Pedra e ás Secretárias de Educação, Serviço Público e Cultura, pelo apoio estrutural para a montagem do evento no Convento São Bernardino de Sena (exposição, palestras e oficina de Arqueologia).
Reconstituição : perspectiva arqueológica |
Terraça de arrimo da Estrada |
Curso pré exposição só com professores |
Os dois dias foram de palestras, filmes e oficina para mais de 600 alunos da rede educacional pública, mais de 50 professores tiveram palestra sobre patrimônio cultural, e público aberto , oficina de Arqueologia (com tanque de areia para simulação de escavação arqueológica com crianças!) e exposição museal de peças históricas.
O historiador angrense Carlos Eduardo, caiçara de 250 anos das famílias açoreanas Rosa e Ramos, originárias da Ilha Comprida (Bracuhy) e Ilha da Gipóia, tem ligação pessoal e afetiva com este caminho ancestral, pois seu bisavô, Evergisto, "Seu Gito", era dono de tropa de equinos e muares e fazia essa rota desde finais do o século XIX.
Agradecemos em especial a equipe de voluntários convidados por mim, verdadeiros heróis: a historiadora e caiçara Cristina Perfeito e o filho, o professor Phablo Rodrigues, o amigo esportista Fábio Abraão, a caiçara e pesquisadora Joyce Gomes.
A Prefeitura cumpriu, dando apoio meramente estrutural(era o combinado prévio).
Tentamos fazer o melhor, mesmo com família , afazeres domésticos e com recursos próprios. A logística e a divulgação foi toda feita por nós.
A ancestralidade, a memória e nossa riqueza cultural merecem!
As pesquisas avançam.
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AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!