Essa vez foi mais técnica para coletarmos amostras das rochas, visitação in loco, fotografia historiográfica e análise topográfica. Nossa base foi novamente a Faz. Santa Thereza.
1- Trilha e observação macro
Visitamos o Mirante do Imperador, um tipo de promontório granítico formado por duas plataformas naturais ligadas por uma faixa de pedra, a aproximadamente 628m de altitude.
Belíssima sensação do alto!
Com uma trilha que inicia no Caminho da Calçada/Prezidencia (séc. XIX), onde analisamos uma visão aérea do traçado do Caminho e construção de tese sobre o sítio arqueológico da Casa da Rainha.
Adobe |
Identificamos durante a incursão pelo Caminho histórico, logo após a Pedra de Santo Antônio, uma grave erosão do piso histórico com desprendimento das rochas encaixadas e sedimentos, do calçamento antigo. Foi provocado pela limpeza pesada de arraste de raízes e árvores e trânsito pesado dos tratores da Prefeitura Municipal de Itaguaí, que está implantando o Parque Municipal Natural da Serra da Calçada com placas de locação turísticas.
Uma valeta transversal para desvio do fluxo lixiviante é urgente. O prezado empreendedor local Álvaro(Fazenda Santa Thereza) já informou as autoridades. A Estrada tem 6m de largura.
A visão macro a partir do Mirante, do traçado do Caminho e das escarpas da mata onbrofila foi importante.
Acesso ao Mirante |
A grande baixada de Santa Cruz, relatada pelos viajantes. |
Belíssima vista |
https://www.researchgate.net/publication/269565584_ Morfoanatomia_e_ontogenese_dos_frutos_e_sementes _de_Clusia_lanceolata_CambessClusiaceae |
A erosão deixou apenas uma faixa(um lado )da pista. |
Enxaimel: técnica de preenchimento |
Estamos analisando outros documentos.
4- Prospecção do Sítio Arqueológico "Casa da Rainha"
No período vespertino, implementamos o acesso ao sítio com roçada manual para delimitação.
Acha que vida de historiador e arqueologo é apenas bibliotecando, como aliás a maioria desses historiadores de gabinete são mesmo...?
Não pudemos avançar devido a presença de Polybia sericea . Assim, retornaremos para metragem de repartições e seus usos do perímetro.
Porém, foi possível a medição das 3 peças,a fotografia historiográfica e o desenho de reconstituição em perspectiva.
A vistoria do espaço inicialmente evidenciou uma área construtiva de 250m², sendo uma terraça medindo frontalmente para o calçamento 25m, 10m de profundidade e no ponto mais alto, com fundos do muro de arrimo para um riacho, de aprox. 8m de altura.
No paramento externo não identificamos barbacãs, porém, por ser um contraforte natural em um vale aluvião , seria provável existirem esses elementos.
A estrutura de engenharia usada foi o modelo cangicado em pedra seca.
https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-colonial-i/ |
A primeira indagação tem de levar em consideração que os serviços de cantaria eram custosos e especializados, portanto caso a reforma da sede da fazenda seja contemporânea a construção estudada, é uma possibilidade de ser o mesmo artífice.
Ilustração do arquiteto Gil Fonseca |
Embora embaçada, a escala arqueológica usada foi de 4cm em todas as medições. |
O degrau maior mediu 1,45m de comprimento, mas com fuga de partes nas extremidades, não é certamente a metragem original.
Nesse desenho de reconstituição, do amigo Gil Fonseca, colocamos em perspectiva o provável uso do sítio arqueológico. |
Foi feita uma descoberta espetacular!
4.2- Descoberta:as lajotas originais
Durante a prospecção , sob as folhagens,gramíneas,terra e sedimentos conseguimos visualizar o estrado de cerâmica vermelha original.
Sob essas lajotas, fixada, tem uma argamassa de caieira com um aglutinante amarelado e areia.
As lajotas tem 32cm x 26cm e 7cm de espessura.
O material é uma semi cerâmica de argila comum , do tipo adobe, inteiriça.
Informação: a outra peça já estava partida. |
Mary Graham, inglesa, publicou que visitando a Bahia:
"(...) as melhores casas são tôdas feitas...onde o chão não é calçado de madeira, há um belo tijolo vermelho, de seis por nove polegadas e três de grossura ; são cobertas com telhas vermelhas redonda."
(Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada entre 1821,1822 e 1823)
Essa descrição feita pela historiadora, desenhista e pintora britânica, se coaduna muito proximamente com as medidas que tomamos do piso cerâmico encontrado.
5- Epílogo
A Expedição Lauburu continuará as visitas e registros.
Ainda estaremos fazendo tomadas de fotografias e levantamento topográfico das paragens onde haja ruínas ou nomes com ligação histórica.
As rotas tropeiristas são interligadas e tinham sempre , nas oficiais (coloniais/ imperiais), uma infraestrutura muito parecida com intenções de : fisco, de vigilância e de apoio logístico.
É nesse tripé que nos apoiamos!
Arrelá!
Carlos Eduardo da Silva
Prof. Lic. His.