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Envolver em as novas gerações |
🔴ARTIGO(Meu, 19/10/17)
POR UM RESGATE VERDADEIRO!
1-RESUMO COMPARATIVO
Um jornalista alemão foi convidado esse ano de 2017 pelos organizadores da Oktoberfest de Blumenau-SC, para relatar e prestigiar a famosa "2° maior festa da cerveja do mundo "...
O que eles não previam, é que , como bom alemão, ele tinha independência no raciocínio e um humor sem graça (?).
http://p.dw.com/p/2m5qq?wa
Leiam o artigo e entenderão.
2- INTRODUÇÃO
Já a nossa realidade regional, onde há 40 anos (desde os anos 1970), vários grupos bem intencionados tentam resgatar a cultura caiçara original, temos de tomar cuidado com a criação de uma "caricatura" da realidade.
Ainda que estejamos muito aquém do "orgulho" que os catarinenses e gaúchos mostram(ao menos quando estão fora de seus Estados, migrando), já vemos localmente vários aspectos positivos de valorização cultural caiçara, mormente nas cidades litorâneas paulistas e algumas ações fluminenses, capitaneadas por estudos acadêmicos e lideranças autóctones legítimas. São Festas do Divino, da Semana Caiçara, do Fandango, estátuas em praças, exposições permanentes...
Porém, um dos aspectos de uma ideologia, é a tendência a padronização e a sonolência do imaginário " nostálgico".
E isso não é honesto com a realidade em termo das carências dos poucos bolsões legítimos caiçaras!
Educação secundarista mais acessível, telecomunicações eficazes, meios de subsistência tradicionais que sejam respeitados por autoridades"ecologicas", até mesmo prostituição infantil e tráfico de entopercentes, fazem parte da estrutura familiar e do cotidiano dos mais longínquos povoados ilhéus...
3-O CASO TARITUBA
Assim, tenho como exemplo a Praia de Tarituba, em Paraty. Originária de portugueses e indígenas, com parcela de espanhóis e negros, trata-se de um bairro de Paraty, distante uns 30 Km do Centro, cuja urbanização pós BR 101, afetou o modus vivendi de forma definitiva. Nos anos 1990 a Universidade Federal Fluminense deu apoio logístico e financeiro para gravação de um CD e edição de um livro.
Embora o prefeito atual Case, tenha devolvido a sede do Grupo Folclórico, anteriormente embargada, juntamente com o campo de futebol por uma pseudo detentora histórica de um espólio...o mesmo grupo tem sérias dificuldades em forjar um grupo coeso, para divulgar -se nos moldes dos mass media globalistas e portanto , sobreviver de forma autônoma , mantendo financeiramente seu corpo de dançarinos e tocadores.
3,1-A QUESTÃO DA SUBSISTÊNCIA
Dos integrantes, 90% tem ocupações indiretas com a pesca e turismo. O que os faz se ausentar nos ensaios e o grupo não possui uma agenda fixa de apresentações remuneradas via taxa hoteleira, na sua localidade, como em outros municípios turísticos, onde o Poder Público por legislações e o meio privado , por agências e hospedagens, leva os turistas para assistir, mediante subsídio embutido nas diárias, com previsão fixa de apresentações artísticas dos grupos, no calendário da municipalidade.
3,2- MARCADORES ANTROPOLÓGICOS INTERNOS
Assim, fora os aspectos de conflitos no âmbito psicosocial e as disputas territoriais interfamiliares do simbólico, que os desagrega, o Grupo Folclórico de Tarituba, acaba privilegiando apresentações para universidades e eventos mais requintados, se transformando uma visão entre os vários cirandeiros paratienses, como o Coroas Cirandeiros, Irmãos Cirandeiros, etc...em um grupo paralelo e isolado das origens populares e coletivas. Esse conflito ideológico de "elitização" causa há uns anos, conflitos até intrafamiliares, onde os irmãos Bulhões/Lara tem diferenças interpretativas da forma de contato e lida com o público e a organização interna.
Essas dissensões geo-cosmogonicas são bem acentuadas na relação do espaço-origem, na hierarquia social , ainda que insigne, do catolicismo local. Com diferenciações de certa forma aceitas como uma espécie de pacto social informal de "pureza e origem", entre os moradores da margem de baixo e de cima da BR 101. Lembrando as relações tribais trazidas da África e que permaneciam nas senzalas...
3,3- VESTUÁRIO; NÃO FIGURINO!
Um dos fenômenos abordados pelo cronista alemão, é o tradicional bermudão alpino-bávaro, usado aqui nos trópicos sulistas. Ele diz que trata-se de uma vestimenta específica regional, que não se coaduna com uma "nacionalidade" teutônica generalizada.
É como um brasileiro visitar uma colônia de conterrâneos em Berlim e lá só tocar samba, servir feijoada e mulatas dançarem seminuas com penas e paetês e isso ser exibido como "a" cultura brasileira e não "uma" das culturas do povo do Brasil.
No caso em tela, descrevemos as roupas usadas pelos caiçaras numa postagem do blog, mas afirmando a ligação de cada descritivo da peça têxtil -feminino e masculino- com o cotidiano:
http://causasecausosangradosreis.blogspot.com.br/2017/03/vestimentas-do-povo-caicara-mulheres.html?m=1
Temos de atentar para que o folclore não se desligue do chão ancestral e do tênue fio entre tradições e sazonalidade inventiva artificializante.
Caiçaras sim, mas não fantasiados.
4-CONSIDERAÇÕES FINAIS
O GFT só se apresenta uma vez ao ano, durante a Festa da Santa Cruz, desvinculando- se cada vez mais de suas raízes cotidianas, comunitárias e da roça.
Resgatar sim, mas sem idealizações!