sábado, 17 de maio de 2025

A INFLUÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA EM ANGRA DOS REIS E AS "OFICINAS "CHUQUISACAS":O CASO DO ALTAR DA PORTARIA DO CONVENTO SÃO BERNARDINO DE SENA.


 1-⚜️ INTRODUÇÃO

O patrimônio cultural de um povo, de uma cidade, vai muito além do que o visível, como prédios históricos ou estátuas de praça. Seus costumes, suas lendas, a gastronomia única e típica ,  o linguajar e até mesmo a forma de comunicação visual como modos de vestir e andar, firmam um conjunto  de beleza e singularidade .

Assim, a história de uma região como Angra dos Reis, que viveu desde o pleistosceno , todas as fases civilizatórias, mormente a pós -cabralina , teremos nuances que se comunicam de todas as sociedades multifacetadas e ciclos econômicos.

2-⚜️ AS MISSÕES RELIGIOSAS E A INFRAESTRUTURA CATEQUÉTICA

Com a chegada do elemento europeu exógeno, abre-se um vórtice de novas adaptações de comunicação e vivência, principalmente no universo simbólico e cosmogônico , mormente e de forma abrupta, nas nações, línguas e organizações intracomunitárias nativas.

Desde o século XVI,o fluxo permanente de contingentes portugueses e espanhóis,grande maioria com intuito  visceral e de camadas mais simples, capitaneada por um projeto de capital explorativo, também lançou o expansionismo da fé, principalmente num contexto europeu de miséria, guerras territoriais e Contrarreforma católica.

É provável que Jesuítas frequentassem
o Convento franciscano de Angra,
como passagem
.

As primeiras instituições religiosas que acompanharam os invasores , foram os da Ordem de São Francisco . Logo depois, com a aprovação da bula papal Regimini militantis Ecclesiae, em 1540, vieram os jesuítas, da Companhia de Jesus.


3-⚜️A EXPANSÃO ENTRE OS REINÓIS 

Entre a população autóctone, só havia duas opções, a morte, a prostituição  e a escravidão forçada pelos materialistas coloniais civis, ou a religiosidade e a nova fé, que com os ritos e cerimônias , de certa forma os protegia através do serviço evangelizador e social.

Nas minas de prata de Potosí, onde milhares morriam de desnutrição , tuberculose, outras doenças  e acidentes...e nas minas de ouro da então Minas Gerais, as condições eram as mais horrendas...

Migrações forçadas e a confusão reinava.

Nesse corte temporal, analisemos as exigências de arte e luxo importado de navios e mulas  pelas montanhas, para mostrar uma insípida "nobreza" dos comerciantes e fazendeiros e portanto, a necessidade de consumo e a fome mercadológica por imitar a Corte distante...





Nesse ínterim, que surgem artífices indígenas que , com sua expertise em grandes civilizações e arquitetura dos Incas, Moxicas, Aztecas e verdadeiras cidades-estado amazônicas do Brasil (Heckembarger e Eduardo Neves), já tinham conhecimentos elaborados de arquitetura entalhes em pedra e madeira. 

A mão de obra estava semi pronta; os conceitos do renascentismo tardio e do barroco foram adaptados pelos padres e mestres de obra.


4-⚜️ DECADÊNCIA MINEIRA: SURGEM OS NÚCLEOS (OFICINAS) .

Os artesãos se uniram em pequenos grupos de autoprotecão social,  guardando segredos do ofício como imitacão e costume das antigas guildas medievais, para monopolizarem o comércio de seus afazeres. 

A superexploração do minério , do ouro e da prata na América espanhola e portuguesa, causou a devastação ambiental e a escassez de escravos e o uso de trabalhadores assalariados ( basicamente por comida e direito a pequena roça), causou episódios de fome generalizada, como a de Ouro Preto-MG em 1701 (sÆculum- REVISTADE HISTÓRIA  [19]; João Pessoa, jul./ dez. 2008).

Pequenas manufaturas de ourivesaria e obras de arte sacra se espalharam. A constante requisição dessa profissão por parte da Igreja Católica e suas Ordens e Irmandades missionárias em expansão e também de civis em fazendas da ascendente indústria do café , acabaram fazendo essas associações de nativos viajarem centenas e milhares de quilômetros, inclusive internacionais.

Aí começa a história do móvel dito "Altar da Portaria do Convento São Bernardino de Sena".


5-⚜️ O ALTAR QUE TODOS VIAM...

A talha da referida obra em madeira esculpida, com detalhes florais , frutíferos e zoomorfos, que dialogam com o movimento  nativista, é um protesto mudo contra a moldagem erudita de inspiração clássica européia e asiática, em voga na época.

É provável ser do  século XVIII. 



Passou por agruras impensáveis: nos anos 2000 esteve no Museu de Arte Sacra , de Angra dos Reis, onde misteriosamente  furtaram parte de duas colunas esculpidas do móvel, isso, dentro do museu e sem arrombamento. 

Atualmente, está semi abandonado no Convento São Bernardino de Sena.

Escamas 

Flores tipicas

Frutas amazônicas 

Temas florais no lugar de fustes doricos

Porém, não se sabe se os "oficinero" o construíram em Angra ou foi trazido pronto...

Podemos imaginar o olhar dos viajantes e visitantes daquela casa monacal ,  abertas as enormes portas da entrada lateral, ver aquelas figuras tropicais e andinas, com o símbolo da Companhia de Jesus...isso tudo num Convento de uma outra instituição religiosa franciscana.


6-⚜️EPÍLOGO

Esse estudo é inédito, embora já tenha base em outros papers sobre peças artísticas de outras paragens, tanto do Peru, Bolívia e do Vale do Parahyba.

Nossas análises da superfície demonstraram que há poucos encaixes, sendo esculpidos em placas de peça única , ou seja, grande habilidade dos obreiros. 


Assim, sem finalizar nossa empreitada, é nossa percepção que a história angrense ainda tem um grande manancial de pesquisa , ainda que sob risco iminente da perda desses objetos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!