1-O objetivo
A Expedição Gamboa está dentro do planejamento de 2022; sendo parte do trabalho de campo para coleta de dados com objetivo de alimentar nossos Estudos internos e gerar conhecimento inédito publicável em paper, que é um dos nossos focos.
Logomarca da Expedição, com o dístico temático: escraviďão, ferro e água. |
Contato interpessoal com os amigos informantes é fundamental. |
Serras dos sertões de Angra: maravilhosas cachoeiras. |
Casa de construção tradicional de pau-a-pique |
Marcas do tropeirismo: uru ou balaio de cipópeva ou imbé |
2-A origem e os preparativos da Expedição
Nossas pesquisas prévias de documentos antigos e matéria arqueo-historiográfica , apontavam uma variante do Caminho do Caramujo, que é outra descoberta totalmente pioneira nossa, que servisse de interfluxo com o Vale da Japuhyba; a Fazenda Japuhyba segundo algumas fontes, é de 1650.
Clique aqui e conheça o Caminho do Caramujo: descoberta inédita nossa!
Porém a própria materialidade dessa estrada histórica era incerta: imersa em lendas, causos e relatos esparsos. Mas somos exploradores por excelência!
Seria a Faz. Japuhyba na verdade a Faz. Campinho citada por E.Pohl? |
Faz.Japuhyba: entreposto do tráfico de escravos? |
Fiz os contatos nativos necessários, onde fui acolhido de pronto por algumas lideranças que conhecem minha família e tem as direções práticas e tradicionais de rota, via afetividade geoespacial natural. Os preparativos como sempre, são feitos com a convocação de membros do IPHAR e colaboradores ativos.
*Iohann Baptist Emanuel Pohl, |
Pohl* , austríaco que inicialmente fez parte da Missão Austríaca trazida pela Imperatriz Leopoldina, para a seção de mineralogia, rompeu com o projeto e que empreendeu sua própria caravana por alguns sertões, vem vislumbrar-nos com a seguinte descrição:
"(...) chegamos a praia, já com o luar, subimos a uma eminência; às onze horas da noite demos com uma cabana, chamada Gamboa, numa íngreme ladeira sobre o mar. A região chamava-se Saco."
. |
Igreja do Bom Jesus, de 1879. Abandonada com tanta história... |
Senhor Jesus e São Sebastião: 150 anos de fé |
Crescimento urbano sobre áreas rurais |
3- A nossa tese
Teorizamos que, por associação toponímica, seja a atual coordenada -22.954048,-44.313941 , coordenadas -22.956778,-44.311634 ou o ponto -22.960317,-44.307780, todos promontórios com afloramentos ígneos verticais, que tem as características relatadas pelo viajante citado, com proximidade ao quebramar.
Georreferenciamento e fotografias historiográficas e medições do terreno são nossas ações. |
Assim, empreendemos marcha a partir do ponto "0" escolhido por nós, no caso, a antiga Igreja do Bom Jesus, hoje abandonada e marco histórico da expansão colonialista, sendo as margens do dito caminho da Banqueta, subimos a ladeira, que dá bela visão do bairro e ao fundo a Praia da Ribeira, seguimos até a bifurcação no topo do morro, onde a direita vai ao Vale da Banqueta e a esquerda, vai até a ferrovia. Cerca de 100m depois, já alcançamos o primeiro trecho de calçamento histórico de pedras semi lavradas .
4- As técnicas arquitetônicas
4.1-Piso
Inicialmente, eu esperava detectar o aspecto de datação regional mais comum: século XIX, com suas capistranas, moldura ou híbrido**.
Clique e conheça o Caminho histórivo do Caramujo. Expedição de 2019.
Nossa metodologia de janelas de amostragem ou Setores (sem limpeza de vegetação ou remoção de solo, ainda que superficial), é coletada em pontos demarcados de 2m² a 4m² ,escolhidos entre aqueles naturalmente expostos suficientemente para análise. Porém, constatamos uma antiguidade maior que outros Caminhos da região!
São lajotas que por sua volumetria, alcançam até 100 Kg!
É diferente e mais simples que qualquer pavimentação já estudada por nós.
4.1/1-Classificação
A cobertura em grande peças chamaremos de semi-lageado e a cobertura de cunhas e pedras pontiaguadas, denominaremos cunhal.
4.2-Bordaduras
Um aspecto extraordinário que percebemos, exprime caráter menos simplório a obra: a presença de bordaduras ,que visavam evitar o desbarrancamento das extremidades finais do arruamento, como uma espécie de eira ou arquitrave utilitária, com função de arremate protetivo. Inédito!
4.3- Terraças ou Talude de aterro
As estruturas mega são montagens comuns nas estradas imperiais, vencendo contrafortes naturais e penhascos e que demonstram que, os engenheiros e mestres de obra preferiam um enxerto do que os temíveis cortes (e infelizmente muito comuns no seculo XX).
Os perímetros das terraças estudados não foram medidos por nós a prumo, mas parece ter uns 75° a 90° e escolhemos 2 que mediu 3m x 3m (9m²) cada um.
Terraça |
5- Associação com o capital escravagista
Pela declividade do traçado , que alcança até 1612m em trecho ainda a ser feita prospecção, em contradição ao Caminho do Caramujo, relativamente mais retilíneo e com escarpas inclinadas em menor trecho, podemos supor muito provavelmente que essa construção era uma estrada mais antiga, menos rebuscada em elementos de drenagem, tipologia de calcetamento mais simples e feita com mais urgência.
Também postulamos que tal Caminho era de serviço de movimentação de contingentes de milhares escravizados a partir do porto da Japuhyba.
Acredito que um consórcio de fazendeiros teve ação nessa empreitada monumental, pois a grande engenharia , movimento de rochas nas minas e de acerto de massas de terra do terreno exigiu uma grande quantidade de operadores , tanto do serviço bruto/pesado quanto alguns técnicos. Óbvio, para facilitação do comércio.
Na década de 1990 ainda vi parte do que seria o porto, sendo de pedra e logo depois soterrado pela Prefeitura para o aterro da rua que vai a praia.
A presença de 2 fontes de água no percurso, salvo se surgiram após a devastação dos anos de carvoarias de 1950-1970, também são evidências do uso de tropas e arrasto de escravizados em movimento.
6-Epílogo
O comércio negreiro teve nessas paragens muito mais movimentação do que as tropas de muares e equinos carregando o nigrum aurum, o café. Temos convicção quase formada, que o desuso desse trecho, seguiu a tendência do vetor de desenvolvimento econômico regional que foi sendo direcionado cada vez mais do Vale da Japuhyba para o sul, em direção as novas passagens pela Serra do Mar, no Vale do Jurumirim, Ariró e Bracuhy, com seus movimentados portos.
A pesquisa avança!
** Termo criado por nós na Expedição Lauburu
Clique aqui e conheça a Expedição Lauburu
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AGRADEÇO PELA CONTRIBUIÇÃO!
AGORA VOCÊ É UM CAIÇARA!